Sob risco de derrota, Temer desiste de parar inquérito
Presidente mira apoio político ao ceder às demandas do Congresso e pensa em pacote econômico
Ao mesmo tempo em que desistiu de pedir no Supremo Tribunal Federal a suspensão do inquérito aberto contra ele após as delações do grupo JBS, Michel Temer recrudesceu o esforço para tentar, no Congresso, se reerguer da pior crise de seu governo.
O presidente mobilizou líderes de partidos governistas e pediu empenho para aprovar, nas próximas duas semanas, um pacote de medidas econômicas que consigam recuperar o apoio de organizações da sociedade civil e do mercado financeiro.
A defesa de Temer pedia ao STF a suspensão da investigação —sob suspeita de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa—enquanto não fosse feita uma perícia na gravação de uma conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista em que, segundo a Procuradoria-Geral da República, o peemedebista dá aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. O julgamento do pedido de suspensão era visto na base aliada como um termômetro da força de Temer na esfera jurídica.
Partidos da base aliada, como o PSDB, admitiam dis- cutir o desembarque do governo caso o STF apontasse a validade das investigações.
Nos últimos dias, auxiliares de Temer passaram a avaliar que havia chance de derrota na corte. No início da tarde, a presidente do STF, Cármen Lúcia, havia negado, na prática, a suspensão imediata do inquérito, afirmando que era necessário aguardar a conclusão da perícia da Polícia Federal sobre a gravação, sem data de conclusão.
A defesa de Temer, então, decidiu retirar o pedido de suspensão e contratou um perito particular para analisas o áudio, classificada por ele como “imprestável”.
Ao abandonar essa estratégia jurídica, Temer virou suas baterias para a política.
Em reunião com a equipe econômica, Temer atendeu a uma demanda da base e aprovou a elaboração de uma versão mais generosa do Programa de Regularização Tributária, que institui uma nova regra de refinanciamento de dívidas com a Receita Federal.
O governo, entretanto, vai enfrentar a resistência da oposição, que promete barrar as votações.
Parlamentares aliados apontam para o risco de que, se o presidente não obtiver sucesso nesses primeiros testes no Congresso, sua gestão pode ficar fragilizada de vez, em um sinal de que perdeu apoio de sua coalizão.