Agentes batalham para convencer dependente a fazer o tratamento
Um dos principais desafios dos agentes sociais e de saúde é tentar convencer os dependentes químicos da cracolândia a participar de algum tratamento. A solução da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado para sanar a crise depende principalmente desses agentes, que ganham R$ 1.400.
Essa tropa do convencimento é a única que entra na praça Princesa Isabel, no centro paulistano, que virou o novo ponto da cracolândia após a dispersão dos dependentes da antiga área.
Na sexta-feira, por exemplo, os agentes fizeram 156 abordagens. Apenas cinco pessoas se dispuseram a se internar —três deles desistiram na última hora.
Às pressas, a gestão João Doria (PSDB) pediu à Justiça autorização para buscar e apreender à força viciados na cracolândia. O Tribunal de Justiça negou. A Promotoria comparou a iniciativa da prefeitura a uma tentativa de “caçada humana”.
“Aprendi que cada um deles tem seu tempo. Não é o que você quer, mas o que ele quer, pressionar atrapalha”, diz uma das agentes. Ela conta que há seis anos convenceu um rapaz a se internar. Nesta semana, ela o encontrou usando crack.
Os agentes não usam celular dentro do “fluxo” —onde se concentra o consumo de crack. Entre os usuários, há desconfiança de estarem sendo gravados ou fotografados. Repórteres já foram roubados e agredidos.
“Na cracolândia se desconfia de tudo porque o usuário se sente oprimido por todos os lados: pela polícia, pelo traficante, pela mídia que mostra a cara dele, às vezes pela própria família que cobra reabilitação”, afirma outro agente de saúde, que já foi viciado em crack.
“Acontece também de ele querer tratamento agora, porque está passando mal, com fome e frio. Quando chega na hora, bate a abstinência e ele desiste”, diz uma das agentes.