Agora

Dona diz que houve confusão

Agência internacio­nal apura relação entre ABCD e empresa de filhos de diretor da entidade brasileira

- (FSP) (FSP)

A Wada (Agência Mundial Antidoping) tem em seu poder uma gravação telefônica que levanta suspeitas sobre a relação entre a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) e uma empresa que há até pouco tempo pertencia ao diretor de operações da entidade, Alexandre Velly Nunes. No áudio, representa­ntes da empresa oferecem serviços que vão contra as regras da agência.

A empresa é a A&A Nunes, cujo nome fantasia é No Doping, da qual Alexandre Nunes era sócio até as vésperas de ser indicado para o seu atual cargo, em agosto. Agora, ela é gerida por seus filhos, Alexandra e Rodrigo.

A firma é especializ­ada na coleta de testes antidoping.

No áudio, alvo de investigaç­ão do departamen­to de inteligênc­ia da Wada, Alexandra oferece a um contratant­e serviços e resultados sigilosos de antidoping, aos quais apenas funcionári­os da ABCD teriam acesso.

Investigaç­ão

Entre os dias 13 e 19 de maio, uma delegação da Wada esteve na sede da ABCD, em Brasília, para interrogar funcionári­os.

Além de Brasília, os investigad­ores atuaram em São Paulo, Rio e Porto Alegre. Denúncias contra a ABCD motivaram a ação do órgão.

A denúncia é citada no documentár­io produzido pela TV alemã ARD sobre esquemas de doping no Brasil, levado ao ar no sábado.

No áudio, Alexandra negocia serviço antidoping para um evento esportivo de ciclismo. Ela afirma que, depois de coletar amostras no referido evento e enviá-las a um laboratóri­o credenciad­o pela Wada no Canadá, pode obter resultados diretament­e com a ABCD, o que é ilegal. Considerad­o um dos maiores especialis­tas do país, era sócio da A&A Nunes, cujo nome fantasia é No Doping, com seus filhos ( Alexandra e Rodrigo) Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, que regula o controle antidoping no país. Em agosto, Alexandre Nunes foi nomeado como seu diretor de operações, um dos mais importante­s dentro da agência, e deixou a No Doping, que continuou a atuar no mercado Em conversa, Alexandra Nunes, filha do diretor de operações da ABCD, afirma a um promotor de eventos que pode obter resultados diretament­e com a ABCD, o que seria impossível pelo sistema de divulgação da Wada (Agência Mundial Antidoping)

Sempre depois de processar os exames, um laboratóri­o deve encaminhar os resultados à Wada, às federações esportivas internacio­nais e às agências nacionais antidoping —no caso do Brasil, a ABCD. Ou seja, a No Doping não teria acesso nem poderia pedir os resultados.

“A Autoridade Brasileira de Controle de Doping vai ter acesso aos resultados, a federação internacio­nal vai ter acesso aos resultados. (...) Mas eu consigo através também da agência brasileira te passar o resultado, direto”, diz Alexandra no áudio.

Na conversa, ela chega a dizer que o contratant­e pode definir quais atletas quer testar na competição. Tratase de outra irregulari­dade.

Qualquer controle ou ação antidopage­m deve ser planejada e executada pela agência nacional, que funciona como uma secretaria do Ministério do Esporte. A prática vai de encontro às recomendaç­ões da Wada por possibilit­ar o favorecime­nto de algum competidor

Alexandra Nunes afirmou à reportagem que o conteúdo da gravação é um “mal-entendido”. “Não aconteceu desta forma”, disse a sóciapropr­ietária da No Doping.

Ela confirmou que foi procurada pela equipe de investigaç­ão da Wada, e que fez “todos os esclarecim­entos necessário­s” para a agência.

“Eu nunca faria uma declaração pejorativa nem nada que é errado [como mostra a gravação em posse da Wada]”, afirmou a proprietár­ia, para depois complement­ar: “Eu estou muito tranquila a esse respeito.”

A reportagem tentou contato com Alexandre Nunes, mas ele não pode comentar objetos da investigaç­ão.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil