Errou, tomou Humorístico da Globo, “Zorra” não perdoa os políticos corruptos e faz sátiras sobre a situação do país
“Tá difícil competir com a realidade.” Dificilmente uma frase caiu tão bem a um programa de televisão quanto esta, que é o lema da atual temporada do “Zorra”. O humorístico, exibido nas noites de sábado pela Globo, resolveu, então, não disputar com o mundo real, mas, sim, usá-lo como sua fonte de inspiração.
E, como a crise política tem se destacado sem parar, é ela que tem ocupado cada vez mais o tom das piadas. Fervendo nos noticiários com reportagens sobre escândalos de corrupção, política é assumidamente o assunto mais acompanhado pela equipe de criação do “Zorra”.
“Os jornalistas são os nossos grandes amigos e aliados. Em todas as nossas reuniões de criação, há jornais espalhados pela mesa e a televisão não sai dos canais noticiosos”, conta Gabriela Amaral, uma das redatoras finais do programa.
Um de seus colegas de função, Celso Taddei enxerga um paralelo entre o trabalho da sátira política e o jornalismo. “Nunca as duas funções esti- veram tão próximas. Claro, cada uma à sua maneira, elas ajudam a contar o clima atual, sobretudo quando está tão pesado e complicado”, avalia.
Com uma redação composta por cerca de 20 escritores, é normal surgirem diferenças ideológicas. “Isso é muito discutido entre nós. Na nossa equipe, há pessoas com os mais diversos pensamentos, até para que as piadas não pesem apenas para um lado. Então, optamos por não perdoar ninguém. O nosso lema é: fez besteira, apanhou”, explica Gabriela.
Essa postura fez com que, há algumas semanas, o “Zorra” citasse, pela primeira vez, o nome de uma empresa: a JBS. O motivo é óbvio. A atração sempre preferiu citar personagens de forma genérica, mas, como o nome da gigante do ramo de alimentos estava tão em destaque, por conta do envolvimento dos seus donos, os irmãos Joesley e Wesley Batista, com escândalos de corrupção política, o programa foi escancarado.
“Era para ser um quadro. Como não havia tempo para gravar, foi feito um vídeo como se fosse um conteúdo institucional. E usamos números reais para mostrar o descalabro que é essa história”, diz Gabriela.