Agora

Jovem perde um olho em ação da PM

- (FSP)

A última lembrança que Heitor Fonseca, 28, tem daquela manhã é a de um policial mirando em sua direção, enquanto ele, agachado, fumava crack. Usuário da droga, ele vivia havia dois meses na cracolândi­a, no centro.

A bala de borracha disparada pelo policial militar na manhã do dia 17 de junho atingiu seu olho esquerdo, destruindo completame­nte seu globo ocular. Hoje, ele só enxerga pelo olho direito.

Era um sábado, e a Polícia Militar e a GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) acompanhav­am a limpeza da praça Princesa Isabel (região central), realizada por varredores da prefeitura. Naquele dia, segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública, a PM foi atacada quando tentou abordar suspeitos de tráfico. Usuários começaram a jogar pedras e pedaços de madeira em policiais —um deles ficou ferido na cabeça.

Heitor conta que estava sentado em um dos bancos da praça, fumando crack. Policiais fizeram um paredão na avenida Rio Branco e dispararam bombas de efeito moral e balas de borracha. “Um policial olhou diretament­e para mim. Estava a uns quatro metros de distância. Levantei do banco e na hora senti um impacto no rosto”, relatou à reportagem.

De acordo com a PM, Heitor foi identifica­do como um dos agressores. Ele nega qual- quer atitude nesse sentido.

Quem o socorreu foi José Carlos de Matos, conhecido como “pastor”, homem que todos os dias distribui pão e água aos usuários. Ele o conduziu até uma ambulância do Samu. Não teve jeito: Heitor ficou cego de um olho.

Heitor, que nasceu em São Bernardo do Campo, começou a usar drogas aos 14 anos, quando morava ilegalment­e com a família em Nova Jersey, nos EUA. Após passar por clínicas de reabilitaç­ão e ser preso no país, foi deportado em 2012, aos 19 anos. Com inglês fluente, trabalhou em hotéis em São Paulo, até que teve uma recaída nas drogas e foi parar na cracolândi­a.

 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Heitor Fonseca, ainda com o curativo no olho, ferido durante ação da polícia na cracolândi­a
Adriano Vizoni/Folhapress Heitor Fonseca, ainda com o curativo no olho, ferido durante ação da polícia na cracolândi­a

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