Agora

Viúvo de 82

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Hoje faz 35 anos que o futebol acabou. Desde aquela ensolarada tarde de verão, em terras catalãs, no dia 5 de julho de 1982. A derrota, da mágica seleção de Telê, abreviou em alguns anos a morte do futebol-arte. De lá pra cá, a maionese só desandou. Não digo que a arte deixou de existir nos gramados, mas ela ficou claramente em segundo plano. Após o “Desastre de Sarriá”, as arquibanca­das e sofás assistiram a uma franca escalada do físico sobre a técnica.

Apesar da ilusão e esperança juvenil naquele time, tive um presságio ruim dias antes. Um primo meu, de férias em casa, surrupiou figurinhas coladas no meu quase completo álbum do chiclete Ping Pong, verdadeira febre naquele ano. Até aí tudo bem, o que importava mesmo era o sonho do penta, nos pés de Falcão, Cerezo, Sócrates, Zico, Júnior, Leandro, Luizinho, Oscar, Éder, Paulo Isidoro. Até mesmo com os equívocos de Telê, como Serginho e Waldir Peres, seríamos campeões. Infelizmen­te, o sonho se foi pelas botas do controvers­o Paolo Rossi.

Em 2002, estava em Barcelona. Fiz questão de verificar, com meus próprios olhos, a morte do estádio Sarriá, demolido em setembro de 1997. Peguei a linha 6 do metrô, na Praça Catalunha, desci na estação Les Tres Torres e caminhei até o parque, criado onde fora o estádio. Fui ver o túmulo de meu maior inimigo de infância. Sentei num banco. Peguei um “La Vanguardia” jogado no lixo. Era do dia, mas não consegui ler. Chorei. Lembrei como aquela derrota me fez entender coisas mais importante­s da vida. Porém, também entendi que aquelas cicatrizes marcam, até hoje, o meu coração ludopédico. Sou viúvo da seleção de 82.

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