Como surge um técnico
Profissionais mostram que aprendizado faz diferença na profissão; Ceni queimou etapas e durou só seis meses
Quando Rogério Ceni começou efetivamente seu trabalho no São Paulo, no dia 4 de janeiro, nem imaginou que fosse viver de tudo no seu clube do coração.
Depois que se aposentou, o ex-goleiro fez cursos e estágios na Europa, em menos de um ano, até assumir o Tricolor. Ele disse que se sentiu pronto para o desafio.
A princípio, projeto inovador, com auxiliar inglês e um time bastante ofensivo. Com o decorrer do tempo, teve de lidar com imprevistos: jogadores lesionados em momentos importantes, outros nas suas seleções e vendas.
Ceni viu seu projeto desmoronar e ficou chateado, mas não desistiu. Foi demitido na última segunda-feira sem ao menos ter utilizado Arboleda e Gomez, os reforços que havia pedido.
O Mito fez certo em assumir o São Paulo logo de cara? Deveria ter se preparado em outra função antes? Qual será o seu futuro? Nesta reportagem, o Agora aborda essas questões, que vieram à tona ao longo da semana.
Não pular etapas
Profissionais da área entendem que Ceni deveria ter assumido categorias de base ou até mesmo ter sido auxiliar antes de chegar ao time principal do Tricolor.
“O melhor para iniciar a carreira é em um clube médio, pequeno. Pensava assim e, por isso, comecei a minha no Madureira. Porque quando você erra, a cobrança não é tão forte como em um clube grande que tem torcida e imprensa cobrando bastante. Você aprende com esses erros e chega mais preparado para um clube grande”, comentou Renato Gaúcho, técnico do Grêmio, ao Agora.
Na arte abaixo estão Fábio Carille, Zé Ricardo e Jair Ventura. Treinadores da nova geração brasileira, efetivados há pouco tempo, e que tiveram trajetória longa de trabalho em seus clubes atuais.
“A torcida tem mais paciência com o ídolo, mas uma hora o ídolo também paga a conta. Não sei como o Rogério vai entender isso. Mas acho que o maior erro dele foi ter começado no São Paulo”, completou Gaúcho.
Injustiça
Atualmente no Santos, Levir Culpi lamentou a demissão de Rogério Ceni. Para ele, tudo foi uma jogada política.
“Por que contrataram o Rogério? Os dirigentes não têm projeto para o clube, eles têm projeto para eles. Uns querem ser políticos, outros têm interesses. Eu me sentiria completamente usado, mas o futebol é usado há muito tempo pelos políticos. Ele é meu amigo e o cara mais indicado para isso, com possibilidade grande de dar certo pelo conhecimento e por sua capacidade, mas isso é futebol, não tem uma lógica”, comentou o técnico.
O auxiliar inglês Michael Beale esteve durante quase seis meses ao lado de Ceni. Ele destacou o principal ponto positivo no treinador e amigo. “Ele se mostrou disposto a dar oportunidade aos atletas da base e também tem um bom olho para selecionar jovens jogadores de outros clubes, como Denilson, Morato, Marcinho, e por uma quantia menor. É bom para o Brasil ter técnicos que olham para o futuro e que dão chances aos jovens jogadores. Espero vê-lo trabalhando novamente em breve”, disse.