Separados por botões
Às vezes, um pequeno acontecimento pode mudar a característica de toda uma vida. Um fato, que passa despercebido diante de nossos olhos, pode transformar o rumo de uma história. Ouvi semana passada, no restaurante do Paraná e Severo, a Casa do Norte do Luizão, lugar de maior número de lendas por metro quadrado da Santa Cecília, a interessante história de dois irmãos: Eron e Toninho.
Típicos garotos do subúrbio, apaixonados por futebol até a medula, os irmãos cresceram nos anos 1980, brincando nas ruas de Guarulhos e do Bom Retiro. Toninho, o mais velho, era corinthiano de nascença, roxo e doente. Eron, quatro anos mais novo, gostava de tudo o que o irmão gostasse. Quem teve um irmão mais velho sabe da importância desta figura. Ele é um verdadeiro espelho. Um herói, que está bem mais tangível do que a mãe ou o pai. Era o mano mais velho que en- sinava o pequeno a jogar bola, soltar pipa, rodar pião, fazer carrinho de rolimã, andar de bicicleta, subir muros e árvores. (Hoje deve ensinar os truques do playstation!)
Toninho ensinou Eron a jogar botão. Jogavam todos os dias. Mas um detalhe começou a separar os dois irmãos. Eles tinham apenas dois times: um do Corinthians e outro do São Paulo. Toninho se recusava terminantemente a jogar com os botões tricolores, tarefa que coube ao irmão mais novo. No começo, Eron era uma presa fácil. Mas com o passar do tempo foi aprendendo as artimanhas dos botões. Os botões do caçula, com Careca e Dario Pereyra, começaram a fazer frente ao botões estampados com o Sócrates e Casagrande. Criaram uma grande rivalidade sobre o estrelão, fato que fez com que Eron se tornasse sãopaulino, numa família repleta de corinthianos. Se os garotos tivessem dois times dos Corinthians...