Festas de reggae DDJJ ganham força na periferia
Ritmo chamado de dancehall se adapta à realidade das favelas e conquista jovens dos bairros
Parece reggae, só que é mais dançante e tem DJ. O dancehall, uma vertente do estilo popularizado no mundo pelo cantor Bob Marley, não é um som novo em São Paulo. Mas o ritmo jamaicano voltou a bombar e até vem tomando o espaço de bailes funks na periferia.
Há festas itinerantes que passam por bairros como Grajaú (zona sul), Vila Guilherme (zona norte) e São Mateus (zona leste).
“Festas itinerantes ocorrem desde 2012, mas agora há mais bailes e mais público na periferia”, diz Lei Di Dai, principal expoente do ritmo. “Inclusive, os melhores bailes são no gueto”, afirma.
É numa das vielas de uma favela em Cidade Líder (zona leste) que bomba a festa 3 Coco a cada 15 dias. Por volta da 1h do último domingo, o dancehall entra em ação na agulha pulsante de Felipe da Silva Teixeira, 28 anos, o DJ Fya, idealizador do evento.
“Vou tocando um ‘roots’, espécie de reggae mais calmo, para a galera ir chegan- do. Aí a madrugada entra e o dancehall agita a galera”, diz o DJ em sua casa, a metros de onde discoteca, pouco antes de a festa começar.
As ruas paralelas também ficam lotadas de gente, que, com um copo de bebida na mão e, às vezes, o cigarro em outra, curte o som. A festa é em uma praça, ao ar livre, e ninguém paga entrada.
A festa, segundo o DJ, chega a reunir 1.500 pessoas na estreita viela na rua principal da favela. Para DJ Fya, o dancehall é uma música democrática. “Minha festa é gratuita, qualquer um pode colar e se divertir.”
Lei Di Dai completa. “Não precisa de banda, por isso se torna um som mais acessível. Os DJs popularizaram esse ritmo. Antes as festas eram mais fechadas, mas agora estão na periferia também.”
O público, a maioria jovem, dançava devagar, com a leva batida do ritmo, “sentindo a música” —nada de requebrar até o chão. As letras têm “pegada”: falam de justiça, amor, violência, repressão e política.
Quando Lei Di Dai pede “isqueiros”, a galera faz um mar de pequenas chamas ao alto. “Respeito com as mina e os mano, sim!”, grita Lei Di Dai.