Moro foi cúmplice de golpe, diz ex-premiê de Portugal
“Fernando Henrique Cardoso e José Serra são golpistas. E Moro e o Supremo Tribunal Federal são cúmplices do golpe”, disse o ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates (2005-2011).
As declarações foram feitas durante mais de duas horas de entrevista que o socialista concedeu ontem à imprensa estrangeira em Lisboa.
O ex-premiê atacou sobretudo o Judiciário português no âmbito da operação Marquês, uma espécie de Lava Jato lusitana em que ele é investigado, mas também a política brasileira.
“O que aconteceu no Brasil foi uma coisa extraordinária. A direita política brasileira quis convencer o mundo de que podia mudar as regras no meio do jogo: de um regime presidencialista para um regime parlamentar”, disse.
Na avaliação dele, o Judiciário brasileiro também teria responsabilidade.
“Os cúmplices do golpe foram também o Moro e o Supremo Tribunal Federal. Moro divulgou uma escuta [entre Dilma e Lula] feita ilegalmente pela polícia. E o Supremo se omitiu”, disse.
Sócrates criticou ainda Michel Temer. “Foi o povo que me escolheu. É uma coisa que o senhor presidente do Brasil não pode dizer. O problema do Brasil é mesmo esse: a ilegitimidade.”
Depois de ser alvo de uma detenção para depoimento —versão mais rígida da condução coercitiva brasileira— e de ter passado quase um ano preso, ele afirma que há muitos paralelos entre seu caso e o de Lula. “Tem até a coisa do apartamento”, diz.
Enquanto Lula é apontado como real proprietário de um tríplex em Guarujá (SP), o português é acusado de ter um apartamento em Paris em nome de outra pessoa.
As defesas também são semelhantes. Ambas negam a propriedade e acusam perseguição do judiciário.
“Uma das críticas que se faz no Brasil é que se usa a prisão preventiva como instrumento de tortura para obrigar as pessoas a fazer a chamada delação premiada. Aqui fez-se o mesmo”, diz.
O ex-premiê é alvo de inquérito sob suspeita de lavagem de dinheiro, corrupção e fraude fiscal.