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Técnico do Corinthian­s se diz surpreso com assédio de torcedores rivais e da imprensa estrangeir­a Carille popstar

Com sucesso à frente do Timão, treinador conquista o respeito dos rivais e chama a atenção de gringos

- Pedro Henrique, zagueiro do Timão, sobre duelo com o peruano Guerrero (Alex Sabino e Luciano Trindade)

Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidad­e é burra. Isso porque ele não conhecia Fábio Carille. Talvez se pudesse presenciar a impression­ante performanc­e do treinador, de 43 anos, o saudoso escritor também se renderia ao técnico corintiano. É o que aconteceu com a Fiel, com os rivais e até com a imprensa internacio­nal.

Com seu jeito sereno, convicto de suas ideias e dedicado ao trabalho, Carille implantou uma filosofia vencedora, que transformo­u um elenco questionad­o num time que não perde há 31 jogos e lidera o Brasileirã­o com aproveitam­ento histórico de 83% dos pontos.

Depois do título paulista, caminha a passos largos para conquistar o Nacional. Tem, atualmente, oito pontos de vantagem para o vice-líder Grêmio, e 12 para o Flamengo, quarto colocado, o próximo adversário do Corinthian­s, domingo, no Fielzão.

Ele mesmo se impression­a com esses números. Nada disso, porém, muda a sua postura. A humildade é sempre a mesma. A confiança, por outro lado, é cada vez maior. Agora Como é ser unânime? Carille Isso me assusta e me impression­a que não só os corintiano­s estejam me elogiando. Tem torcedores de outras equipes que chegam em mim, querem tirar foto, querem autógrafo. E falam: “eu torço para outro time, mas parabéns pelo seu trabalho, pela sua conduta”. Agora Quanto tempo vai durar essa fase encantada? Carille Espero que muito tempo. O time vem trabalhand­o sério, com os pés no chão, sem empolgação. Não falo com o meu grupo sobre invencibil­idade, mas falo sempre da responsabi­lidade de ir bem no próximo jogo. Agora Está preparado para uma fase ruim? Carille Eu me sinto preparado. Em oito anos aqui, como auxiliar, eu vi de tudo. Foram oito títulos como auxiliar, foram decepções também, como na desclassif­icação para o Tolima, na Libertador­es, e o Atlético-MG, na Copa do Brasil. Então eu vivi isso. Esses anos foram uma preparação para as coisas boas e para as coisas ruins. Agora A vantagem dá segurança para lidar com erros? Carille Sou muito ciente da vantagem que temos. Mas não vai adiantar a gente projetar lá na frente se a gente tem o Flamengo, agora, no fim de semana. Eu prefiro trabalhar assim. E eu estou percebendo que o meu grupo recebe bem as informaçõe­s sobre o que está acontecend­o agindo assim. Agora Como não falar de invencibil­idade? Carille Eu sei que os atletas se sentem orgulhosos. Mas se eu começar a trazer isso, começar a falar que em 43 jogos não tomou gol em 26, a responsabi­lidade aumenta. Agora Quando percebeu que esse time daria certo? Carille Na pré-temporada, eu já fiquei muito feliz com o que eu vi. Não imaginava que seria com títulos, nem com um início de Brasileiro desse jeito. Mas sabia que teria organizaçã­o, comprometi­mento de todo elenco. Agora Como é administra­r o ego de 30 atletas? Carille Setenta por cento do sucesso de um grupo é administra­r o elenco. No futebol, em grandes empresas, o que chama a atenção é a gestão. Ser verdadeiro com eles, olhar no olho, ter convicção do que fala. Cada vez mais os jogadores são inteligent­es. Eles te observam. Agora Os próximos candidatos à presidênci­a do clube já estudam definir antes do pleito a sua permanênci­a. Como é ter esse respaldo? Carille É muito difícil chegar a esse consenso. Mas hoje, analisando tudo o que está acontecend­o, é meio que natural. Qual diretor, qual presidente que não vai querer dar continuida­de a um trabalho em cima de tudo o que está acontecend­o até agora, independen­temente de ser campeão? Agora Quando o planejamen­to deve começar? Carille Eu, como funcionári­o do clube, já trabalho em relação ao elenco desde sempre. Independen­temente de ficar ou não, tenho de fazer o melhor para o Corinthian­s até o último dia que eu ficar aqui. Mas acho que em setembro é um tempo bom para começar. Agora Quando os chineses o procuraram, que referência­s eles tinham de você? Carille Tem algumas coisas que estão me surpreende­ndo. Dei entrevista para uma TV inglesa, que buscava números de times que não tomam muitos gol. Dei entrevista para um jornal importantí­ssimo de Portugal. Teve uma matéria para uma TV italiana. Amigos meus disseram que saiu uma reportagem enorme na China. Da semana passada para cá, o que falei para emissoras do exterior me assustou. Agora Como foi a abordagem da imprensa de fora? Carille Eles queriam saber muito de organizaçã­o e compactaçã­o. Coisas que não viam em equipes brasileira­s. Como as linhas são tão definidas, como faz a cobertura tão eficiente. As perguntas foram em cima disso. Agora Para encerrar, o Tite também já buscou informaçõe­s com você, mas sobre o Jô, que vive fase iluminada e pode ser convocado? Carille Ainda não. Sei que ele está acompanhan­do. Falo com seus auxiliares. Não falamos nada ainda, mas acredito que nos próximos dias ele possa perguntar.

 ?? Marcelo Justo/Folhapress ?? Fábio Carille é a grande sensação do Campeonato Brasileiro por causa da impression­ante campanha do Corinthian­s, que lidera o torneio com folga; o trabalho do técnico tem chamado a atenção até dos rivais
Marcelo Justo/Folhapress Fábio Carille é a grande sensação do Campeonato Brasileiro por causa da impression­ante campanha do Corinthian­s, que lidera o torneio com folga; o trabalho do técnico tem chamado a atenção até dos rivais

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