Antes de votação, Temer afaga ruralistas e baixo clero
Câmara decide hoje se primeira denúncia contra presidente em exercício do cargo deve prosseguir
O governo tenta hoje enterrar de vez a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer.
Ele é acusado do crime de corrupção passiva por supostamente ser o destinatário da mala com R$ 500 mil repassados pela JBS a Rodrigo Rocha Loures, seu ex-assessor. Esta é a primeira vez que um presidente é denunciado no exercício do cargo.
Temer passou ontem em busca de apoio. Recebeu ao menos 35 deputados —incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP)—, almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do baixo clero.
Ele acenou à bancada ruralista (210 votos) com uma medida provisória reduzindo a alíquota da contribuição do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) e parcelando pagamentos atrasados com descontos.
Além disso, mandou de volta à Câmara 11 ministros e contou com a boa vontade de partidos como PR e PSD, que fizeram ao menos dois secretários estaduais retomarem seus assentos como deputados para tentar engrossar os votos a favor dele.
No recesso parlamentar, Temer já havia liberado emendas, distribuído cargos a aliados e informou que traições causariam perda de espaço no governo.
Para evitar que Temer seja investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o Palácio do Planalto, em tese, não precisa fazer muito esforço, já que é a oposição quem precisa de 342 votos dos 513 deputados para dar seguimento à denúncia na sessão marcada para começar às 9h.
No entanto, o governo precisa da oposição para conseguir que 342 deputados registrem presença para que a votação comece.
Nas contas de Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, Temer tem 280 votos a favor dele. Ele contabiliza 51 indecisos e 57 traições. Pelos cálculos, a oposição terá entre 125 e 130.