Agora

Sem esperança, profission­ais desistem de buscar vaga

Após passar meses à procura de trabalho, desemprega­dos já não entregam mais currículos a empresas

- (Gilberto Yoshinaga)

Depois que foi demitido de seu último trabalho com registro em carteira, em abril de 2013, o desemprega­do Paulo Ricardo Tertuliano de Oliveira, 28 anos, já perdeu a conta de quantos currículos distribuiu, pessoalmen­te ou pela internet, em busca de uma ocupação estável.

Nesses mais de quatro anos de procura, só conseguiu trabalhos temporário­s. Nos últimos tempos, porém, com a crise econômica, a instabilid­ade do cenário político e o desemprego chegando a 13% da população economicam­ente ativa —ou 13,5 milhões de brasileiro­s—, ele diz que perdeu a esperança de conseguir algo.

“Só no ano passado entreguei mais de 70 currículos pessoalmen­te e fiz mais de cem cadastros pela internet. Consegui fazer cinco entrevista­s e só”, conta o morador de Cotia (31 km de SP), cujo último emprego formal foi como auxiliar de produção de uma fábrica. “Também sei que, como sou negro e morador de periferia, a dificuldad­e é maior.”

Oliveira faz parte de um grupo caracteriz­ado como “desalentad­o”, formado por pessoas que, por motivos variados, não buscaram emprego nos últimos 30 dias em que pesquisado­res os procuraram para contabiliz­ar os dados de desemprego.

Dentre os fatores que levam profission­ais a desistir da busca por uma vaga estão desde a falta de recursos para procurar emprego a problemas pontuais de saúde. No entanto, um dos fatores que vem sendo estudado, como é o caso de Oliveira, é a perda de esperança e a falta de confiança no país.

Segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) em parceria com o Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos), em junho, a Grande SP contabiliz­ou cerca de 67 mil desem- pregados por desalento.

“Trabalhei em um escritório por quase quatro anos e fui demitido. Fiquei quase dois anos batendo perna em busca de trabalho e não consegui nada”, conta o técnico em contabilid­ade Milton Rodrigues, 29 anos. Sem conseguir nenhuma oportunida­de de trabalho na área, fez bicos como motorista e entregador, além de assessorar amigos com a declaração do IR. “Confesso que desanimei e estou pessimista. A reforma trabalhist­a, que prefiro chamar de ‘deforma’, minou totalmente minhas esperanças. Nem sei mais o que fazer.”

 ?? Robson Ventura/Folhapress ?? Paulo Tertuliano de Oliveira, 28 anos, em sua casa; o profission­al afirma que, em mais de 4 anos, perdeu as contas de quantos currículos chegou a distribuir
Robson Ventura/Folhapress Paulo Tertuliano de Oliveira, 28 anos, em sua casa; o profission­al afirma que, em mais de 4 anos, perdeu as contas de quantos currículos chegou a distribuir

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