‘Serviço público tem de melhorar em geral’
Ouvidoria recebeu 2.765 queixas no primeiro semestre do ano, 671 delas sobre atendimento
Especialistas dizem que as críticas às polícias não são diferentes das direcionadas ao outros setores dos governos. Segundo eles, é preciso melhorar bastante a forma como o cidadão é tratado.
“É um problema generalizado. Falta mais empenho no sentido de melhorar as atividades de atendimento à população em geral. Passa por valorização profissional, métodos gerenciais mais modernos”, diz o coordenador do curso de economia urbana e gestão pública da PUC, Ricardo Gaspar.
“Hoje, a polícia já não é vista de forma muito positiva. Se há pessoas com imagens dúbias em relação à polícia”, diz Maria Amelia Cora, professora da PUC na área de administração pública e gestão social.
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo recebeu no primeiro semestre deste ano 2.765 denúncias por parte da população. Uma em cada quatro queixas (671 no total) diz respeito à forma como o cidadão foi atendido por policiais militares ou civis, as duas corporações sob responsabilidade do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Os dados fazem parte do relatório semestral da Ouvidoria (veja quadro ao lado). Entre as queixas feitas em relação apenas à PM, má qualidade de atendimento e solicitação de policiamento correspondem a 4 em cada 10 reclamações (842). Na Polícia Civil, responde a 1 em cada 3 denúncias. Entre as falhas estão, por exemplo, demora para atender a pessoa e tratar mal o cidadão.
Para o ouvidor das Polícias, Julio Cesar Fernandes Neves, a falta de policiais tem colaborado para que esse seja um problema notado pela população. “A falta de elemento humano faz com que o atendimento não seja adequado. Essa queixa tivemos do presidente do sindicato dos escrivães, que reclamou da falta de policiais. É preciso uma readequação”, afirma. “A população ligando e denunciando, a gente apresenta essa deficiência”, diz.
Outro ponto que tem preocupado a Ouvidoria é o crescente número de pessoas mortas por policiais militares. No primeiro semestre, a Ouvidoria recebeu 222 denúncias referentes a homicídios cometidos por policiais militares. O ouvidor Neves diz que há denúncia sempre que é notória a conduta errada do policial. “Ontem [quintafeira], o próprio corregedor [da PM] veio a público para falar a respeito de um caso. Nós apoiamos que a Corregedoria também fale, não só a Ouvidoria”, afirma.
Dados da PM mostram que no primeiro semestre deste ano policiais militares mataram, em serviço, 313 pessoas no Estado. Isso representa um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 382 pessoas foram mortas.