Diretora sofre acusação de excluir personagem negra
Chegou nesta semana aos cinemas “O Estranho que Nós Amamos”, releitura de Sofia Coppola para o filme de mesmo nome originalmente lançado em 1971. A produção rendeu à cineasta o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes deste ano —o segundo concedido a uma mulher desde 1961.
A trama é baseada em um livro de 1966, escrito pelo americano Thomas Cullinan (1919-1995). Mas a nova versão pode ser considerada uma doce vingança feminina, já que Sofia submete o ponto de vista masculino do primeiro longa, estrelado por Clint Eastwood, à força do grupo de mulheres.
Ambientada na Virginia de 1864, três anos após o início da Guerra Civil Americana (1861-1865), a história narra os passos de John McBurney (Colin Farrell), um soldado ferido em combate. Apesar de ser visto como inimigo, ele é ajudado pela jovem Amy (Oona Laurence), que o encontra no bosque e o leva para a casa onde mora, um internato de mulheres já quase vazio, gerenciado por Martha Farnsworth (Nicole Kidman). Lá, elas decidem cuidar do rapaz para, então, entregá-lo às autoridades.
A trama principal dos dois filmes é igual. As diferenças estão na sensibilidade de Don Siegel e agora de Sofia para retratar como, pouco a pouco, as garotas da casa começam a demonstrar interesses e desejos em relação ao soldado, principalmente Edwina (Kirsten Dunst) e Alicia (Elle Fanning).
Se no filme de 1971 ninguém resiste ao manipulador e violento Eastwood, que não consegue controlar seus instintos sexuais, agora Farrell é mostrado de forma mais sutil, embalado pela trilha sonora criada pelos franceses do grupo Phoenix (Sofia é casada com o voca-
“O Estranho que Nós Amamos”, filme dirigido por Sofia Coppola já em cartaz nos cinemas, foi acusado nos Estados Unidos de praticar “whitewashing”, termo usado para quando personagens de outras etnias são excluídos de obras e substituídos por atores brancos.
A diretora tirou do longa —refilmagem da produção de mesmo nome dirigida em 1971 por Don Siegel— uma escrava negra. No original, Hallie (Mae Mercer) é seduzi- lista Thomas Mars). Tudo envolto em um clima de sonho.
Mesmo assim, não há muito amor no filme, que mostra o soldado John McBurney sendo seduzido pela mulhe- da pelo cabo John McBurney (Clint Eastwood). No longa atual, parte das ações dessa personagem foram incorporadas por outras duas.
Em resposta às críticas, Sofia Coppola afirmou que não gostaria de fazer uma má representação de negras em seu filme. “Eu não queria abordar esse assunto de forma tão branda”, disse em entrevista ao site “BuzzFeed”. “Sinto que não dá para mostrar a perspectiva de todos numa história. Es- rada. Também ficam de fora o beijo do soldado em uma menina de 12 anos, o incesto entre irmãos e a escrava negra da primeira produção. tava focada só nesse grupo de mulheres”, disse a cineasta, referindo-se às protagonistas, lideradas por Nicole Kidman e Kirsten Dunst.
“Tratar de escravidão como uma trama lateral seria um insulto. Há vários exemplos de como escravos foram apropriados por artistas brancos”, completou, ao site americano “Indiewire”.
As acusações de “whitewashing” no cinema e na TV têm ganhado força e gerado debate no mundo.