Paternidade sem democracia
O clube de coração tem para a paternidade o mesmo valor que o aleitamento tem para a maternidade. “X” da questão: no preto no branco, são nas cores preta e branca da bandeira que o pai transmite o “Y” dominante do Coringão. Analogia que não tem nada de simplificação. Não é teta, não. Há mães fantásticas que não amamentaram, há pais maravilhosos que deixaram o filho desgarrar para cores rivais, mas a censora sociedade sempre olha com desconfiança para essas situações. Time de coração não é lugar para democracia. Filho que torce para time diferente do pai? Democraticamente, eu desconfio. Não da mãe que não pode dar o peito. Do fundo do coração, a verdade é que ser pai é querer que seu filho pense e aja como você por livre e espontânea vontade. É mostrar o caminho da direita, da esquerda e fazer o filho acreditar que foi ele que escolheu ser do mesmo lado, o la- do do povo. Sem forçar... Ensinamento de pai para filho é uma arte. Isso inclui, como regra número um, pai e filho torcerem, festejarem e sofrerem pelo mesmo hino. O do time do povo. Ser pai tem uma pitada de cartola. É ser o dono da grana, o patrão. Mas é mais do que isso, é ser também o treinador. Técnico paizão do tipo que estuda para falar menos bobagem. Com uma mescla de carinho, entrosamento, boleiragem. Ser pai é compartilhar segredos, ser colega de time, conversar, opinar, mas não deixar vazar quem é a garotinha mais bonita da 3ªA. E fingir que esqueceu de cobrar a lição de casa para ter companhia para assistir ao Coringão. E se lembrar só após o apito final. Ser pai é saber que somos cheios de defeitos. E que os problemas não se resumem a orçamento. Quando pinga um a mais ajuda, mas dinheiro não compra química, querer bem, entrosamento. Ser pai é bom desde a apresentação oficial, mas melhora muito mais com o tempo. O calendário é puxado, mas é preciso treinar. Ser pai é sofrermos por não sermos como fantasiamos ser para sermos admirados pelo filho. Ser pai é muito mais difícil do que ser filho. E olha que quem diz é um péssimo filho. Ser pai é ser só um Vitor na vida quando a gente gostaria mesmo de ser igual ao meu ídolo, o meu filho, o meu Basílio. Mas mesmo não sendo, morrer de alegria por ser seu pai.