Pai andarilho revê família após 30 anos
Um homem de 74 anos, que há três décadas não via a família, foi resgatado numa noite fria de julho, em rodovia, em Jales (585 km a noroeste de SP), e reencontrou os filhos e parentes.
A história começou quando policiais rodoviários encontraram o homem debaixo de uma lona, maltrapilho, congelado e quase morto.
Era José Lourenço Alves, que vagou de Norte a Sul do país durante o período. Deixou para trás, em São Paulo, a mulher, Maria Priscila, com 43 anos à época, e cinco filhos. Em 30 anos, não fez contato, não deixou rastros.
Ora se fixava por alguns meses em alguma proprie- dade agrícola, onde fazia serviços braçais, ora vagava sozinho, como andarilho.
José Lourenço estava, pelo menos à família, morto. A última vez que o viram foi no casamento de um dos filhos, em 1987. Estava alegre e não bebeu, contrariando hábito.
Naquele dia frio em Jales, depois de resgatado e restabelecido, José Lourenço listou aos assistentes sociais os nomes completos dos parentes. O mistério chegava ao fim.
“Sofri demais, passei muita fome, sede e fui ficando cego por causa das luzes altas dos carros na estrada. Dormia em qualquer canto”, diz José.
Um misto de sensações tomou conta da família com a notícia do reaparecimento. “No começo, não quis saber. Que pai é esse que some por tanto tempo? Foi a mãe quem insistiu. Com três minutos de conversa, mudei meu conceito sobre ele. Vi uma pessoa sábia, com boas ideias, sensível, carente. Penso que ele se cansou de andar pelo mundo e, agora, quer estar perto dos filhos no final da vida. Quero cuidar do velho”, diz Iran Alves, 51, o primeiro filho a ter contato com José e funcionário da “Folha de S.Paulo”.
Uma preocupação da família é que o pai renove o desejo de vagar pelo mundo e abandone a casa dos idosos onde está.