Agora

Um golpe de verdade, na Venezuela

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Muita gente no Brasil chama de golpe qualquer mudança na política que não seja de seu agrado. O caso mais famoso, claro, é o do impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff, que revoltou muitos petistas. Mas, vale lembrar, o ex-presidente Fernando Collor, que também foi retirado do cargo pelo Congresso, repetia a cantilena do golpe.

Houve até quem usasse essa palavra para condenar a tentativa de abrir um processo contra o presidente Michel Temer (PMDB), acusado de corrupção.

Quem quiser observar um golpe de verdade pode olhar para o que está acontecend­o na Venezuela.

Lá, o presidente —ou melhor, ditador— Nicolás Maduro inventou de convocar, do nada, uma tal Constituin­te. Ou seja, um grupo de pessoas eleitas para reformar a Constituiç­ão do país. O detalhe é que a Constituiç­ão atual foi aprovada em 1999 pela mesma turma de Maduro.

O objetivo verdadeiro da manobra ficou claro em poucos dias. O que se pretende é tomar o lugar da Assembleia Nacional, o Congresso da Venezuela, onde a oposição tem maioria.

Dizer que a Constituin­te inventada pelo governo foi eleita pela população é uma cascata.

Só uma minoria apareceu para votar, e as regras foram feitas na medida para eleger governista­s. Até a mulher e o filho de Maduro participar­am da marmelada.

Ou seja, mudaram as regras no meio do jogo, para tirar as forças dos adversário­s.

Enquanto isso, o país sofre com uma inflação monstruosa e uma recessão que faz a do Brasil parecer brincadeir­a. Isso é que dá melar a democracia.

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