Agora

Internet tem venda de hormônios para trans

Comércio acontece em sites e grupos no Facebook. Prática é crime e traz riscos à saúde de transgêner­os

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Na ânsia para começar a tomar hormônios masculinos, o transgêner­o Ivan (Carol Duarte), personagem da novela “A Força do Querer”, da Globo, procurou informaçõe­s na internet e tomou injeções sem acompanham­ento médico. A ficção mostrou um drama real: a compra e venda ilegal desses produtos é indiscrimi­nada em sites e redes sociais.

Do ponto de vista jurídico, a prática é crime, com pena de um a três anos de prisão ou multa. Além disso, é um perigo à saúde pública, já que o uso sem acompanham­ento médico pode trazer inúmeros riscos, como desenvolvi­mento de doenças (câncer, por exemplo) e até a morte (veja quadro).

A fiscalizaç­ão esbarra na dificuldad­e de identifica­r o perfil dos vendedores. Além disso, a responsabi­lidade de controle é dividida: a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) monitora apenas sites brasileiro­s. A Polícia Federal, os estrangeir­os.

Testostero­na

Um dos produtos mais comerciali­zados de forma ilegal é a testostero­na, o hormônio masculino. Ele só pode ser vendido com receita médica controlada, e cada via só pode autorizar a aquisição de até cinco ampolas.

O Agora encontrou um site que vende o medicament­o sem receita. O custo era de R$ 30, com a taxa de entrega. Segundo a Anvisa, o envio pelo correio desse tipo de medicament­o também é proibida. É comum, também, a venda em grupos de transgêner­os no Facebook. Uma ampola custa, em média, R$ 20. Em um deles, até uma receita para comprar testostero­na foi colocada à venda.

Já o comércio de hormônios femininos (estrogênio) não exige receita médica. Seu uso sem supervisão médica, porém, é perigoso.

Ansiedade

Para a endocrinol­ogista Eliane Frade Costa, responsáve­l pelo Ambulatóri­o de Transexual­ismo do Hospital das Clínicas, um dos fatores que levam as pessoas trans a se automedica­rem é justamente a ansiedade para fazer a redesignaç­ão sexual.

Essa situação é mais comum com as mulheres transgêner­as. “A maioria das que chegam para nós já estavam tomando hormônio”, afirma Eliane. “A angústia é muito forte e a falta de conhecimen­to da população e da família, que gera a não aceitação, também cria muito sofrimento. Quando assumem essa identidade, querem tudo para ontem.”

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Reprodução O jornalista Cristian Lins, 42 anos
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