‘Janot tinha pressa para tirar Temer e barrar Dodge’
Ângelo Goulart Villela diz que ex-chefe da procuradoria queria impedir a nomeação de sua sucessora
O procurador da República Ângelo Goulart Villela, 36 anos, afirma que Rodrigo Janot fez o acordo de delação com a JBS com o objetivo de derrubar o presidente Michel Temer e impedir a nomeação de Raquel Dodge para substituí-lo no comando da Procuradoria-Geral. “Janot interpretou que eu havia mudado de lado também para apoiar a Raquel Dodge, a principal e mais importante adversária política dele. No Encontro Nacional de Procuradores da República, em outubro do ano passado, início de novembro, o Janot soltou uma frase que me chamou a atenção. Estavam eu e mais alguns colegas, poucos, e ele falou: ‘A minha caneta pode não fazer meu sucessor, mas ainda tem tin- ta suficiente para que eu consiga vetar um nome’. E ele falava de Raquel, todo mundo sabia. Ele tinha pressa e precisava derrubar o presidente”, disse.
“Ele viu na JBS a oportunidade de ouro para, em curto espaço de tempo, derrubar o presidente da República e assim evitar que sua principal desafeta política viesse a ocupar a sua cadeira.”
Villela concedeu ao jornal “Folha de S. Paulo” sua primeira entrevista após deixar a prisão, no dia 1º de agosto, onde ficou por 76 dias sob suspeita de vazar à JBS informações do Ministério Público. “A desonra dói muito mais que o cárcere”, disse.
Patmos
Alvo da Operação Patmos, de 18 de maio, ele foi denunciado por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça.
Na ocasião, Janot disse que vomitou quatro vezes ao saber da prisão. “Acho que é ‘media training’, não só essa frase mas outras de efeito que ele anda falando. Não pretendo desqualificar o meu acusador, mas essa frase infeliz demonstra que ele quis mostrar um lado humano que no meu caso não teve.”
Em sua delação, Joesley Batista, a JBS, disse que Villela teria recebido uma “ajuda de custo” de R$ 50 mil por mês para vazar informações. Depois, porém, afirmou não saber se o dinheiro chegava ao procurador.
Na entrevista, ele nega ter recebido propina e diz que se aproximou da JBS para negociar uma delação. Relata sua amizade com Janot e afirma que o ex-procurador-geral chamava Dodge de “bruxa” em conversas reservadas. “Nunca recebi valor nem promessa de vantagem. O meu interesse era de liderar um acordo da maior empresa que a gente estava investigando. Os dividendos que receberia seriam profissionais”, disse