Agora

Meninos da Rua Quatro

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Quem nunca teve um amigo mimado? Daqueles criados com a avó, que andavam na rua de chinelos com meia? Babaquaras forjados a base de gemada, danoninho e leite com pera? Não sei por que cargas d’água, mas eram sempre eles os donos da bola! Assim, chantageav­am o placar, a marcação de faltas, laterais e escanteios. Se a vontade do mimado não fosse feita, bau-bau, adeus pelada.

O piti de Neymar com o Cavani, querendo bater pênalti no lugar do atacante uruguaio, me fez lembrar muito de um garoto de minha rua, o Balu. Balu era desses mimados. Tão paparicado pela família, que tinha até três tipos do desejado boneco Falcon —presentead­os pelos avós maternos, paternos e madrinha—, enquanto o resto da galera não tinha nenhum. Balu até era bom de bola, mas acima de tudo, era dono da bola e dos uniformes.

Certa ocasião, num acirrado campeonato de futebol de botão da saudosa rua Quatro, fomos para a final eu e o Balu. Balu eliminara surpreende­ntemente o forte Cubatão na semifinal, e eu despachei o grande Lelão Izidoro na outra chave. Na decisão, humilhei Balu com uma sonora sapatada de 11 a 2 —com direito a gol olímpico, para delírio dos mais de 30 garotos que assistiam à finalíssim­a.

Revoltado com a humilhação no estrelão, Balu me sacou do “seu” time de futebol, junto do tranquilo Gersão, que fora o “juiz” da final do botão. Ainda soltou uma norma: “quem fosse flagrado falando com os dois sairia do time”. Semanas depois, Gilsão, Douglão, Cacá, Zêco, Cote, Lelão, Raul, Horse, Telê, Fufeta, Guinho, Adriano, Patolino, Asa, Dudu, André, Marcinho... Todos estavam falando comigo, e o mimadão do Balu ficou só com a bola e os uniformes.

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