Pediu, parou
O leitor que gosta de bater sua pelada está, decerto, familiarizado com o conceito do “pediu, parou”. Ele é usado com sucesso faz décadas, sempre que não há um juiz para arbitrar a disputa —ou seis, como ocorre no Campeonato Brasileiro.
A ideia é muito simples. Quando julga ter sofrido uma falta, o sujeito diz algo como “parou”, “faltou”, “ai, ai, ai, ai” ou “na próxima, eu te pego, seu filho da p...”.
As eventuais discordâncias serão debatidas em minúcias, na sequência, com gargantas geladas. Na mesa do bar, há de ser condenada a figura do “ladrão de lateral”, odioso personagem que adota uma versão moderada da honestidade, apontando quase todas as bolas favoráveis a seu time.
De uma forma geral, no entanto, o sistema funciona muito bem, já que o “ladrão de lateral” é exceção e ganha até um colorido folclórico. O “pediu, parou” funciona, e fun- ciona na base da boa-fé, ingrediente fundamental na cultura da peladinha sem compromisso.
Pois experimente juntar a mesma turma que bate seu divertido baba há anos e coloque no meio dela um juiz. Ponha, ainda, um troféu em disputa.
Imediatamente, todos aqueles que conviviam harmoniosamente passarão a agarrar adversários sem bola, a cavar pênaltis aos berros, a cobrar laterais ao menos cinco metros à frente do local correto e a usar as mãos para balançar a rede do rival. A pressão será constante no homem que, por algum motivo, topar ficar assoprando o apito. Perfeito. Tem de ser exatamente assim, porque tudo isso faz parte do futebol, o esporte mais maravilhoso criado na história da humanidade. Qualquer comportamento diferente é um desrespeito com as pessoas que estão ao seu lado, sejam elas seis, dez ou 35 milhões.