Agora

O gol é um detalhe

- Por Felipe Cerqueira

A frase que dá título a este texto saiu da boca de Carlos Alberto Parreira e foi um tanto mal compreendi­da. Claro que colocar a bola no barbante é o objetivo do futebol —e o técnico campeão mundial em 1994 sabe disso—, mas às vezes o placar não conta toda a história da partida. Há mais coisas a se falar sobre o 0 a 0 com a Bolívia. Foi a primeira vez em tempos que o Brasil jogou os 90 minutos em cima da Verde na altitude de 3.640 m da capital boliviana. O gol só não saiu porque Lampe estava em seu dia e porque faltou capricho aos brasileiro­s em alguns momentos. No entanto, fica evidente como a seleção brasileira evoluiu desde que Tite assumiu a seleção. Com Dunga, o Brasil poderia até vencer, mas dificilmen­te executaria o seu plano de jogo em território tão hostil.

Já classifica­da para a Copa do Mundo da Rússia 2018, a seleção brasileira lutava para igualar o recorde de pontuação em uma edição de elimi- natórias sul-americanas, mas o empate de ontem com a Bolívia, por 0 a 0, em La Paz, fez ruir o plano de Tite e seus atletas. O Brasil chegou a 38 pontos e, com mais um jogo a fazer, não conseguirá alcançar a Argentina, que somou 43 no qualificat­ório para o Mundial de 2002.

Desta vez não dá nem para culpar a altitude, vilã em confrontos anteriores com os bolivianos. O time canarinho dominou o adversário e criou 11 chances para marcar o seu gol —cinco delas cara a cara—, mas não conseguiu superar Carlos Lampe. Com sete defesas difíceis, o goleiro da Verde mostrou arrojo e elasticida­de para manter um tabu de mais de 20 anos: a última vitória brasuca na capital boliviana foi em 29 de junho de 1997, um 3 a 1 na final da Copa América.

A estratégia do Brasil foi chegar três horas antes do apito inicial. Deu certo. Com Paulinho ligado, Neymar chamando o jogo e Jesus mostrando gás incomum nas alturas, o líder do zonal sulamerica­no dominou o penúltimo colocado, aproveitou os buracos que a Bolívia deixava no meio-campo e chegou com facilidade à área.

Salvo um chutaço de Bejarano no final do primeiro tempo, que explodiu no travessão, o time da casa pouco assustou a zaga brasileira. Temor mesmo a seleção sen- tiu quando perdeu o beque Thiago Silva, lesionado.

Por outro lado, a busca pelo recorde de pontos nas eliminatór­ias não foi o suficiente para fazer do Brasil um time ambicioso. Neymar, por exemplo, mostrou-se fominha na melhor chance da seleção, no final da primeira etapa: quis driblar Lampe em vez de tocar para Paulinho e acabou desarmado pelo goleiro. Na sequência, viu o zagueiro Valverde lhe tirar duas vezes o gol. Foi a primeira vez neste qualificat­ório que o time comandado por Tite saiu de campo sem marcar.

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