Professora morta é aclamada como heroína por multidão
Corpo de Heley Batista, que mesmo em chamas salvou alunos, foi levado em cortejo por bombeiros
Janaúba (MG) Quando um professor assume uma sala de aula, dá a vida pelos seus alunos. Doralice de Abreu, 65 anos, diz que aprendeu esse ensinamento nos primeiros anos de sacerdócio em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, e o repassou às outras professoras da família.
Uma delas era sua sobrinha Heley de Abreu Silva Batista, que morreu anteontem, aos 43 anos, após tentar salvar as crianças da creche Gente Inocente. Aclamada como heroína pela multidão que acompanhou o cortejo fúnebre, o corpo de Heley foi levado ao cemitério São Lucas em um carro do Corpo de Bombeiros.
As investigações apontam que a professora entrou na frente do autor do atentado, o vigia Damião Soares dos Santos, 50 anos, para impedir que ele atacasse mais crianças da creche, e ajudou a salvar quem pôde, mesmo em chamas. Heley teve 90% do corpo queimado.
Nascida na mesma cidade que a tia, Heley mudou-se para Janaúba, a 130 km de Montes Claros, na adolescência, para acompanhar a mãe, aprovada em concurso da Secretaria Municipal de Saúde.
Primeiro estudou contabilidade, mas não gostou da profissão. Se divertia mesmo era ajudando a tia em seu trabalho com crianças, conta Doralice. Resolveu fazer uma segunda faculdade —pedagogia, no campus janaubense da Universidade Estadual de Montes Claros.
“Amou tanto que não largou mais”, diz a tia Doralice. Se ela gostava de crianças? “Demais da conta. A vida dela era dar aula”, diz a comadre Elizabete Fernandes, 42 anos. “Ela preparava as festas de todos as crianças, fazia lembrancinhas, ficava até tarde por conta, e gostava.”
Por anos, trabalhou com crianças em escolinhas da cidade, até que em 2016 foi aprovada em concurso da prefeitura. “Estava muito contente. Dizia: ‘vou ali trabalhar para os meus anjinhos’. E me mandava fotos quando eles estavam mais bonitinhos”, conta a comadre Elizabete. Ruan Miguel Soares Silva