Morre mais uma vítima de ataque a creche em Minas
Mortos chegam a nove, oito alunos e uma professora. Dezesseis crianças tiveram alta médica
Ana Clara Ferreira Silva, 4 anos, foi uma das vítimas do incêndio da creche em Janaúba (MG). Ela tinha um irmão gêmeo, Victor Hugo, que havia faltado à aula por problema de saúde, segundo a família. “Não sei se ele entende o que está acontecendo”, fala o avô Jovecino da Silva, 61 anos. Os gêmeos viviam brincando, diz ele. O outro avô, Antonio Pereira da Silva, 56 anos, conta: “Eu os levava à creche de vez em quando. Era uma festa”.
Luiz Davi Carlos Rodrigues será sempre lembrado pela tia, a diarista Cristiane Rodrigues, 37 anos, pela facilidade com que usava o celular dos mais velhos. “Nunca mais vai vou ver aquela criança, que fazia graça, mandava áudio no grupo do WhatsApp da família”, diz ela. “Ele adorava tirar fotos e pedia para colocar filtro, carinha de animal”, completa uma prima. O velório do garoto foi na casa da família, no bairro Barbosa.
Yasmin Medeiros Sabino, 4 anos, teve 90% do corpo queimado, mas chegou a ser socorrida no hospital de Montes Claros (MG).
“Ela fazia tudo o que uma criança faz. Corria, brincava, apanhava, batia, respondia, atentava, conversava. Mas conversava!”, lembra Roberta Moreira, 37 anos, prima da menina, que foi criada sem pai. Yasmin, agora, deixou mais silenciosa a rua onde vivia com os três irmãos mais velhos e a mãe.
Cecília, 4 anos, filha única de Adilson de Almeida Gonçalves, 25 anos, gostava tanto da creche que pedia para ir até aos finais de semana, conta o pai. A menina passou os três primeiros anos de vida em Uberlândia (MG) e contava os dias para as férias, quando viajava para a fazenda dos avós, em Janaúba (MG). Ela lutou contra as queimaduras, que atingiram a parte de trás de seu corpo. Ficou internada, mas não resistiu e morreu na sexta.
Talita Vitória Bispo, 4 anos, chegou a ser hospitalizada, mas não resistiu e morreu ontem. “Era um doce de menina, Esperta, sabida”, destaca o avô Geovani José de Barros, 66 anos, caminhoneiro. Ele diz que a menina se divertia quando ele a levava para passear em seu caminhão. “A gente nunca espera que uma coisa dessas vá acontecer. Achei que ela estava melhor, mas aí, hoje, recebo essa notícia.” A menina deixa uma irmã. Janaúba Morreu ontem de manhã mais uma criança vítima do ataque a uma creche municipal em Janaúna (MG), subindo para nove o número de mortos no ataque —oito alunos, todos de 4 anos, e uma professora. O autor da ação, o segurança noturno Damião Soares Santos, 50 anos, também morreu. Outras 16 crianças receberam alta médica ontem.
A criança que morreu ontem é Talita Vitória Bispo. Ela estava internada no hospital João 23, em Belo Horizonte, para onde havia sido transferida no final da madrugada. Antes, a menina foi atendida na Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros, a cerca de 130 km de Janaúba.
Além de Talita, a Santa Casa de Montes Claros transferiu para o João 23, nas últimas horas, o menino Mateus Felipe Rocha Santos, 5 anos.
Outras 22 pessoas, entre crianças e adultos, continuam internadas em hospitais de Minas. Na Santa Casa de Montes Claros seguem internados nove pacientes, entre os quais, duas mulheres de 23 anos e 51 anos que respiram com a ajuda de aparelhos. Sete crianças com idades entre 3 e 6 anos estão com quadro estável.
No João 23, em Belo Horizonte, estão dez vítimas —oito crianças de cinco anos, todas em estado grave, uma mulher de 42 anos e outra de 63 anos, ambas em estado gravíssimo, as duas com cerca de 40% do corpo queimado e com queimadura no sistema respiratório.
Acompanhamento
Das 16 crianças que tiveram alga, 14 estavam no hospital de Janaúba. Elas deixaram a unidade acompanhadas pelas mães e foram levadas para as casas por uma van da prefeitura.
Em nota, a prefeitura da cidade disse que disponibilizou quatro unidades do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) para que, em plantão, e também pelos próximos dias, elas prestem “acolhimento, assistência médica, psicológica e social” às vítimas e aos familiares. As outras duas que tiveram alta estavam no Hospital Universitário de Montes Claros.
O caso
A polícia diz que ainda não tem certeza se o vigia usou álcool ou outro produto para para pôr fogo em si próprio e nas crianças, na quinta-feira pela manhã. A investigação aponta que ele tinha problemas mentais e havia dito que iria se matar. O segurança foi enterrado anteontem em Janaúba sem a presença de familiares.