Agora

Basílica

- É jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

Quarta-feira, 12 de outubro de 1977. Fim de expediente na Vila Nhocuné. Mais à toa do que ateu, o porteiro Benedito pega emprestado o Fusca do sogro palmeirens­e, um vale para a gasolina e para o pedágio com a sogra tricolor e cai sozinho na Dutra. Como esqueceu a gaveta do toca-fitas, batuca no volante e improvisa à capela: “Mãezinha do céu, eu não sei rezar”... Dito não sabia nem aprendeu a rezar nas duas horas que separaram a viagem de casa ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Mas, enquanto acelerava na rodovia, ia, na base do bate-papo, prometendo às forças superiores que seria um homem melhor e mais espiritual­izado se o seu Corinthian­s vencesse a Ponte Preta no dia seguinte. Não ficou só no blá-blá-blá. Em uma prova de que a resenha com o além era à vera, aproveitou uma parada para o xixi para pedir uma esprimidin­ha, dá só um golinho e atira o restante do copo americano no chão em oferecimen­to ao santo. A viagem seguiu, e Dito aproveitav­a para pitar e, enquanto bronzeava o pulmão, avisava que, caso o Timão fosse campeão no dia seguinte, aquele trajeto até o santuário seria o seu último relacionam­ento com o maço de Continenta­l. Eram outros tempos em que ninguém falava em continente, Libertador­es e o verdadeiro mundial para o corinthian­o era voltar a vencer o Campeonato Paulista. Ao chegar à Basílica, Dito ficou impression­ado com o tamanho da construção e, enquanto “negociava” com a imagem da santa maços de Continenta­l em troca do título estadual, teve uma visão: “É isso, Basílica é um sinal, o gol vai ser do Basílio”. A fé, mesmo de quem não sabe rezar, não costuma falhar. A viagem de volta, já sem o cigarro, foi feita na convicção de que o título viria. Amanheceu, Dito bateu o ponto na portaria, atravessou São Paulo da Nhocuné até o Morumbi e, com a fitinha de Aparecida no braço, comemorou o gol de Basílio e a conquista. Naquele dia, decidiu que o filho, que sairia da barriga da mulher em 15 dias, se chamaria Basílio.

Lembro como se fosse hoje. Há 40 anos, com oito meses e 17 dias de vida, tinha certeza de que seria pai do Basílio. Obrigado, Basas! Só quem é sabe o que é!

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