‘Falta estudo sobre situação dos alunos’
Farinha feita com alimentos perto do vencimento será usada na rede municipal este mês
A nutricionista Vivian Zollar, do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, afirma que a gestão Doria não apresentou nenhum estudo sobre a situação nutricional dos alunos da rede municipal que justifique o uso da farinata. “Estão apresentando uma solução para um problema que não se conhece.”
Vivian ressalta que não é possível saber se a farinata fará bem ou mal aos alunos porque não se conhece, até o momento, com quais produtos é feita. Para a nutricionista, a inclusão da farinata para reforçar na merenda é uma contradição à decisão de proibir a repetição do lanche industrializado.
Ela afirma ainda que todos os produtos que fazem parte da alimentação escolar seguem critérios propostos pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Segundo ela, é preciso fazer testes que garantam a segurança e qualidade dos alimentos. Além disso, é função da Codae (Coordenadoria de Alimentação Escolar), ligada à Secretaria de Educação, planejar a merenda. O órgão não foi consultado antes do anúncio de ontem.
O prefeito João Doria (PSDB) anunciou ontem que a farinata será utilizada na merenda escolar até o final deste mês. A farinata é uma farinha feita com alimentos perto da data de validade que seriam descartados por produtores ou revendedores.
Segundo a organização sem fins lucrativos Plataforma Sinergia, que idealizou a farinata, o produto pode ser usado para fazer bolos, pães e macarrão, além de ‘reforçar’ sopas. A farinha também é a base do granulado alimentar que virou polêmica nos últimos dias, quando Doria divulgou que distribuiria o composto para famílias de baixa renda da capital.
“A Secretaria da Educação já foi autorizada a utilizar na merenda escolar, de forma complementar, o alimento solidário. Com todas as suas características de proteína, de vitamina, de sais minerais, para a complementação desta merenda. E já com iní- cio neste mês”, disse o prefeito, em coletiva. A rede municipal serve mais de 2 milhões de refeições por dia.
O anúncio pegou de surpresa a secretaria. O titular da Educação, Alexandre Schneider, não estava presente. Mais tarde, o Agora pediu uma entrevista com o secretário, mas a assessoria disse que ele não falaria.
A prefeitura não informou quantas crianças vão receber a merenda com farinata nem a situação nutricional dos alunos da rede municipal. Também não detalhou como a farinha será usada na alimentação dos estudantes nem a composição do produto a ser utilizada. “Teremos um diagnóstico das carências nutricionais da população”, disse a secretária de Direitos Humanos, Eloisa Arruda, ressaltando que alimentos ‘in natura’ não serão substituídos por derivados da farinata.
O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, participou da coletiva e fez fazer elogios à farinata. “Fico ofendido quando falam que é ração humana. Não politizem a fome do pobre. Desprezar o pobre é não dar alimento a ele”, disse.