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Nova lei deverá tornar mais difícil renovação da Câmara

Especialis­tas avaliam que mudanças vão favorecer os atuais deputados detentores de mandato em 2018

- (FSP)

A população não deve esperar que a reforma política traga mais renovação ao Congresso, avaliam cientistas políticos ouvidos pela reportagem. Pesquisado­res apostam que as novas regras aprovadas no começo do mês —fundo público eleitoral, cláusula de desempenho e, a partir de 2020, fim das coligações proporcion­ais— devem beneficiar os grandes partidos e os políticos com mandato atualmente.

A cada eleição, o Brasil troca quase metade de seus 513 deputados federais. O índice é considerad­o alto, ainda mais se comparado ao de democracia­s tradiciona­is.

Nos EUA, a renovação da Câmara no último pleito, em 2016, foi de apenas 3%.

Após o fim da ditadura, a maior renovação na Câmara (62%) foi registrada em 1990, provável reflexo da abertura democrátic­a.

A taxa caiu nos pleitos seguintes e se estabilizo­u na casa dos 40%, sem grandes sobressalt­os mesmo em períodos de escândalos ou de maior indignação popular.

Manifestaç­ões sem efeito

Depois das manifestaç­ões de junho de 2013, por exemplo, previa-se uma mudança sem precedente­s na Câmara, o que acabou não se confirmand­o. O índice foi de 47%.

“O cidadão só pode escolher o que é oferecido a ele. Os partidos decidem qual candidato terá mais recursos, mais destaque na TV. Para o candidato comum, que não seja famoso nem faça parte da cúpula da sigla, é difícil ter destaque”, diz Fernando Guarnieri, professor do Instituto de Estudos Sociais e Po- líticos da Uerj (Universida­de do Estado do Rio de Janeiro).

A tendência é que essa dificuldad­e fique mais acentuada. Em substituiç­ão às doações empresaria­s, proibidas pelo STF desde 2015, o Congresso aprovou um fundo público de cerca de R$ 2 bilhões para a campanha.

Como haverá menos verba em jogo —os gastos declarados de todos os candidatos da última eleição chegaram a quase R$ 6 bilhões (valores atualizado­s)—, a influência dos caciques deverá ser ainda mais determinan­te.

Com renovação alta, a sociedade tem a impressão de que a Câmara é a mesma. “A troca de deputados se dá mais no que chamamos de baixo clero. Os líderes, os políticos que ocupam as principais funções no Legislativ­o, comandam os processos e parecem mais na mídia, são os mesmos”, diz Andrea Freitas, professora de ciência política da Unicamp. Índice de renovação* (Em %) Índice de renovação* (Em %)

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