Agora

Bafafá no Enem

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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deu o que falar neste ano. Principalm­ente, por causa da redação.

O tema escolhido pegou os estudantes de surpresa (e muitos não gostaram da surpresa): os desafios para a educação de surdos no Brasil.

Dá para entender o susto. Não é um assunto que costuma ser comentado em casa, na escola ou na TV. Mas, com um pouco mais de atenção, até que não era um bicho de sete cabeças.

A prova trazia material de apoio para a redação. Havia, por exemplo, um trecho da lei que trata da inclusão da pessoa com deficiênci­a.

Outro texto curto falava do reconhecim­ento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no país.

Pode não ser grande coisa, mas, consultand­o tudo e juntando as peças, era possível desenvolve­r uma ideia. É até um jeito de testar a capacidade do aluno de entender o que está lendo.

Outro rolo com a redação aconteceu por causa de uma regra do Inep, o órgão do Ministério da Educação que cuida do exame.

Pela norma, que acabou barrada na Justi- ça, os textos que desrespeit­assem os direitos humanos ficariam com nota zero.

É o tipo da coisa que só pode dar confusão. Afinal de contas, cada pessoa tem sua opinião e seus valores. O que o estudante acha pode não ser o que o examinador acha.

Imagine, então, se o assunto fosse o aborto ou a pena de morte.

Mesmo que a correção da prova seja feita com bom senso, os examinados vão ficar sempre com medo de escrever alguma coisa que seja considerad­a imprópria. E ninguém deve ser punido só porque tem uma opinião diferente.

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