Gestão Doria dificulta acesso do Agora a dados municipais
Gravações mostram chefe de gabinete da Comunicação atuando para barrar uso da Lei da Informação
A gestão do prefeito João Doria (PSDB) tem adotado ações para dificultar o acesso do Agora a dados da Prefeitura de São Paulo pela Lei de Acesso à Informação.
Uma gravação oficial de uma reunião da Comissão Municipal de Acesso à Informação, divulgada ontem pelo “O Estado de S.Paulo”, mostra o então chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Comunicação, Lucas Tavares, atuando para dificultar o acesso de dados públicos solicitados por jornalistas. Tavares foi exonerado ontem.
No áudio, Tavares diz que, dentro do que for “formal e legal”, vai “botar pra dificultar” o trabalho dos jornalistas. Além dele, sete outros representantes da prefeitura estavam na reunião, realizada no dia 16 de agosto. A atuação de Tavares viola a Lei de Acesso à Informação.
Na reunião, eles analisavam pedidos dos jornalistas William Cardoso, do Agora, Luiz Fernando Toledo, do “Estado de S.Paulo”, e Roberta Giacomoni, da TV Globo. Na conversa, Tavares afirma que os três integram o “ranquinzinho mental” dos que mais fazem pedidos pela lei.
Cardoso havia solicitado informações sobre reclamações de limpeza pública entre 2013 e 2017. O repórter recorreu à comissão após receber resposta de que os dados não seriam enviados pela internet; ele teria de ir buscálos. Ao avaliar o recurso, Ta- vares diz que vai ser “mauzinho, não bonzinho” e vota para que o jornalista busque pessoalmente os dados. “Ele que vá lá pegar. Eu não quero facilitar a vida do William.”
Na sequência, uma mulher não identificada sugere determinar a “disponibilização ativa”, enviar um link pela internet, o que é “sempre padrão” das respostas. Outra diz que vai ficar “evidente” mandar buscar, pois não “segue o padrão”. Outra pessoa sugere então que o repórter seja informado que os dados seriam disponibilizado online “quando for possível”. “Aí demora dois meses pra disponibilizar, ele desiste da matéria”, completa Tavares.
Em outro momento, o então chefe de gabinete afirma que a jornalista da TV Globo “é uma das produtoras mais chatas que existem no planeta Terra”. A emissora disse, em nota, que o comentário “mostra que muitas entidades públicas ainda resistem muito a prestar contas à sociedade”. O jornal “O Estado de S.Paulo” não comentou.