‘A F-1 foi transformada em fast-food’
A rotina de Bernie Ecclestone segue a mesma de sempre quando vem ao GP do Brasil de F-1. A diferença é que pela primeira vez o empresário está em São Paulo sem ser o todo-poderoso do evento. Após vender a FOM (Formula One Management), dona da categoria, por US$ 8 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) para a Liberty Media, dos Estados Unidos, ele foi surpreendido com um afastamento do cargo de gestão na empresa.
Aos 87 anos, ganhou um alto posto no conselho, mas diz que nunca foi ouvido.
“Sempre cuidei da F-1 como um restaurante três estrelas do Michelin [três estrelas é o grau máximo do guia francês que avalia restaurantes]. Não acho certo cuidar da F-1 como um fastfood”, afirma à reportagem.
O empresário critica o Brasil, onde tem uma fazenda de café. Em 2016, sua sogra brasileira foi sequestrada.
“Parece que todo mundo no Brasil é corrupto. Vocês precisa de um Putin [presidente da Rússia]. Ele resolveria tudo”, diz.
O senhor se sentiu enganado com a quebra do acordo que garantia a sua permanência à frente da F-1? Bernie Ecclestone Se tivesse me sentido enganado, teria lidado com isso. São coisas que acontecem na vida. Vendi o negócio, mas continuo na companhia, numa posição mais alta. Suponho que eu seja um conselheiro. Talvez eles não soubessem como pedir para eu me retirar. E uma forma de fazer isso foi me dar uma função superior. O Chase Carey —atual CEO da FOM— quis o meu lugar. Eu lhe disse: “Você comprou o carro, então dirija”.
O que o senhor queria dizer à Liberty Media e ainda não disse? Ecclestone Talvez você não queira publicar. Eles devem acordar. Não tenho nada contra eles. Sempre tentei cuidar da F-1 como se fosse um restaurante três estrelas Michelin. Não acho certo cuidar da F-1 como se fosse um fast-food. É o padrão na América. É muito inferior ao da F-1. Todos que estão envolvidos nos últimos 40 anos espera um padrão mais alto.
O que estariam errando? Ecclestone Eu tocava o negócio para produzir resultados financeiros. Eles não parecem preocupados em produzir lucros. Este ano, todos os contratos que foram originalmente feitos por mim estão válidos. Pelo que sei, não há contratos novos.
Quais são os riscos de o GP do Brasil de F-1 acabar? Ecclestone Os contratos vão até 2020. É difícil dizer o que vai acontecer depois. Para a corrida poder continuar em São Paulo, a cidade terá que dar recursos para o GP do Brasil ser mantido. O prefeito João Doria está tentando vender o autódromo. Será bom vender para alguém preparado. Há duas coisas importantes para F-1: pilotos campeões ou bem-sucedidos. E a Ferrari. Isso mantém viva a F-1. Não há mais um brasileiro fantástico. E se não tiver a Ferrari, não faz sentido haver F-1 aqui.
O senhor acompanha as notícias sobre o país? Ecclestone É difícil acompanhar. Todo dia acontece alguma coisa. Parece que todo mundo no Brasil é corrupto. O Brasil precisa absolutamente de alguém como (Wladimir) Putin [presidente da Rússia]. Ele resolveria tudo. Ele lidaria com essas pessoas que fazem mal ao país de uma forma que eles não ficariam tão felizes.