Chegar à 3ª idade já é vencer na vida no Jardim Ângella
No bairro onde se morre mais cedo na capital, ser idoso é sinônimo de perder parente ou amigo
Chegar aos 60 anos no Jardim Ângela (zona sul), bairro com a menor expectativa de vida na capital, é motivo para comemoração. Essa alegria, porém, muitas vezes têm um sabor amargo. É fácil encontrar idosos com histórias de perda de parentes e amigos jovens —para a violência ou para doenças.
“Aqui se morre mais cedo, sim, devido ao alcoolismo, às drogas e à violência, principalmente a do tráfico”, afirma a aposentada Hilda Santos Gonçalves, 72 anos, moradora da região há 25 anos. Ela perdeu um sobrinho de 18 anos espancado por um problema familiar. “Ele estava namorando uma menina aqui do bairro, mas a família dela não aceitava. Um dia o pai dela bateu nele até matar”, diz a aposentada.
O Mapa da Desigualdade da ONG Rede Nossa São Paulo mostra que quem mora no Jardim Ângela morre mais cedo do que em qualquer outro distrito da cidade.
Segundo o mapa, no Jardim Ângela a média de expectativa de vida é 55,7 anos; menor, por exemplo, do que as idades mínimas finais da aposentadoria proposta pelo governo Michel Temer (65 anos para homens e 62 para mulheres).
A média de idade é quase 24 anos menor do que a do bairro com a maior expectativa, o Jardim Paulistano (zona oeste), onde a taxa é de 79,4 anos (veja quadro).
Mais problemas
A infraestrutura deficitária de saúde, transporte e lazer na região também é apontada pelos mais velhos como motivo para os índices ruins.
No distrito não há cinema, teatro, sala de shows, casa ou espaço cultural, aponta o Mapa da Desigualdade.
Outros dados mostram que as pessoas morrem mais cedo no bairro: ali há menos idosos do que praticamente todo o resto da cidade. Segundo pesquisa Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) de 2014, o Jardim Ângela é o segundo distrito com menor número de idosos, 7,19%, atrás apenas do distrito Anhanguera, que tem 5,95% de pessoas com mais de 60 anos.