Lojista usa faixa e irrita concorrentes asiáticos
Comerciante cearense nega discriminação com estrangeiros e afirma que seu foco é ampliar as vendas
“Essa loja é de brasileiro”, diz a faixa em cima do letreiro da Calde Bijuterias. Ali, no calçadão da rua Sete de Abril, no centro paulistano, todos os itens custam R$ 2,99.
“Precisava fazer uma propaganda diferente para o Natal. Como tudo está muito batido, apelei para a cooperação do brasileiro, pedir para ajudar outro brasileiro”, diz o dono do lugar, José Correa, 72 anos. Ainda que não fale em valores, o empresário diz que a propaganda surtiu efeito: em dezembro de 2017, com a faixa, teve o dobro de vendas de dezembro de 2016, sem faixa.
Segundo o Censo 2010, o bairro da República tem 43% de imigrantes entre seus moradores. Junto com outras regiões do centro histórico, como Sé, Bom Retiro, Pari e Brás, é a que mais concentra moradores vindos de outros Estados ou países, junto com Jardim Anhanguera, na periferia noroeste da cidade.
Os arredores da faixa são uma tradução desses números. Todas as demais lojas de bijuteria daquele quarteirão do calçadão são administradas por asiáticos. Os donos da Wishing, no número 227, e da Lilian Presentes, no 204, foram procurados, mas não comentaram a faixa. Outros imigrantes disseram em anonimato que se sentiram afrontados pela faixa.
“Às vezes dá a impressão que o cara está perseguindo alguém”, diz Correa. “Mas não, sou só brasileiro e estou cuidando dos meus negócios. Amo o país, e quem ama também me prestigia, vai comprar de mim.”
China ou Coreia
Para o empresário, a faixa não passa de uma propaganda. “O que importa é dinheiro no caixa.” Se as vendas forem boas, José deve viajar à China ou à Coreia do Sul para escolher os produtos que venderá no comércio.
Ele nega que chamar atenção para sua nacionalidade tenha sido explicitar o estrangeirismo de quem esteja ao redor. “Ninguém compete com ninguém. Sou brasileiro, genuíno brasileiro, daqueles que já morou no Brasil inteiro”, afirma o comerciante.
Correa saiu da zona rural de Cedro, no Ceará, para São Paulo no Carnaval de 1978. Vendeu pente na rua até montar seu primeiro ponto. Lê e escreve o necessário para fazer negócios. “Eu não consigo fazer um currículo porque não tenho grau nenhum de escolaridade.”