Pressionado, Temer afasta vices da Caixa sob
Presidente teme que aliados se irritem; recomendações foram do Banco Central e do Ministério Público
O presidente Michel Temer decidiu ontem afastar por 15 dias quatro vice-presidentes da Caixa, após recomendações do Banco Central e do Ministério Público.
A medida foi tomada para permitir que os executivos apresentem “ampla defesa” diante de suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção e de possível favorecimento a políticos.
A decisão do presidente atinge Deusdina dos Reis Pereira (vice de Fundos de Governo), Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo), Antônio Carlos Ferreira (Corporativo) e José Henrique Marques da Cruz (Clientes, Negócios e Transformação Digital).
Os quatro são alvo de operações conduzidas pelo Ministério Público Federal para apurar desvios praticados pelo grupo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA) na Caixa. Também são investigados pela própria Caixa, que aponta irregularidades.
Pressão
Temer anunciou sua decisão após o Banco Central recomendar a destituição dos executivos. A recomendação foi enviada dia 10 à presidente do Conselho de Admi- nistração da Caixa, Ana Paula Vescovi, chefe do Tesouro.
A sugestão foi a segunda desde o mês passado, mas Temer vinha resistindo.
Em dezembro, a Procuradoria da República pediu à Casa Civil a troca imediata de todos os 12 vices por causa das suspeitas apontadas contra os quatro e também dos riscos de ingerência política na gestão —a maioria é apadrinhada de partidos.
No dia 8, a pasta, seguindo orientação do presidente, alegou que não tinha competência para exonerar os dirigentes, o que motivou nova investida do MP. No dia 11, a Procuradoria enviou recomendação a Temer e avisou que ele poderia ser responsabilizado, na esfera cível, se mantivesse executivos acusados de crimes.
“Eventuais novos ilícitos cometidos pelos atuais vicepresidentes poderão gerar a responsabilização civil de vossa excelência, por culpa in eligendo [escolha inadequada]”, diz o documento.
Temer resiste a destituir os vices definitivamente porque teme retaliação dos partidos que os indicaram na votação da reforma da Previdência.
Outro motivo é que o próprio Temer tem ligações com alguns dos investigados, entre eles Derziê. No último dia 8, após garantir a permanência da atual cúpula, ele foi chamado para reunião com Temer no Planalto. Para aliados, tratou-se de um gesto de “desagravo”.