Camelôs aproveitam para lucrar nas filas
Espera de até 17 horas, revezamento com familiares e amigos, e alimentos, cadeiras, travesseiros e outros “utensílios” para ajudar a enfrentar tanto tempo pela vacina contra a febre amarela. Foi esse o cenário encontrado pelo Agora, que esteve na madrugada e manhã de ontem em 16 postos de saúde das zonas sul e leste e na região central de São Paulo.
Na UBS José Bonifácio, em Itaquera (zona leste), a distribuição de senhas começou às 16h de anteontem, feita pelos pacientes da fila, que criaram um sistema de controle próprio. “Uma mulher que chegou às 16h, tirou um carimbo da mão e anotou os números em pedaços de papel para evitar que furassem a fila”, contou a dona de casa Najla Briscola Leite, 24 anos. Ela e mais 15 pessoas da família, incluindo quatro crianças, revezavam-se na fila. Às 9h, funcionários passaram e começaram a trocar as senhas improvisadas por 500 oficiais e iniciaram a vacinação.
Cerca de 70 pessoas aguardavam na fila em frente à UBS Chabilândia, em Guaianases, por volta das 2h30 de ontem. No local, uma aviso informava que a vacinação começaria às 9h. Depois de três tentativas de em vão, a diarista Maria Aparecida Migliorini, 59 anos, resolveu chegar às 17h de anteontem, e foi a primeira da fila na unidade. “Se não, a gente pega a fila muito longe e, quando chega perto, não tem mais vacina”, disse.
Segundo ela, na quintafeira anterior, esperou das 8h às 13h, mas saiu frustrada, sem se vacinar. “Eles deram 500 vacinas, nem avisaram que não tinha mais”, reclamou Maria Aparecida.
Primeiro a chegar
Na UBS da Vila Jacuí (zona leste), o primeiro a chegar, às 17h, foi Irineu Moreira, 56 anos, que está desempregado. Ele se revezava na fila com dez pessoas, entre familiares e amigos. Segundo Moreira, a decisão de passar a madrugada em frente ao posto foi motivada após as notícias de mortes por febre amarela. “A gente fica meio apreensivo, vi pela televisão, aí um vai em casa e fala alguma coisa”, disse Moreira. À 1h20 de ontem, 130 pessoas já estavam na fila do posto.
No início da manhã, a fila da UBS Teotônio Vilela, em Sapopemba (zona leste), virava o quarteirão. Alguns pacientes estavam sentados em cadeiras de praia ou banquinhos, já outros, como o aposentado Airton José dos Santos, 68 anos, carregavam apenas um guarda-chuva. “Estou aqui desde as 17h de domingo e foi difícil lidar com a chuva”, contou. Ele quis ser o primeiro da fila, pois vai para Cotia (Grande SP), para acompanhar o neto de 14 anos que treina futebol. “Eu costumo ir lá três vezes por semana, não posso ficar sem a vacina”, disse.
Ambulantes aproveitaram as filas formadas em frente aos postos de saúde para tentar faturar uma grana de madrugada e de manhã.
Morador da vizinhança da UBS José Bonifácio, no Itaim Paulista (zona leste), Wellington Souza Santos, 61 anos, vende cachorro-quente, bebidas e salgados. “Na terça-feira passada, o movimento foi grande. Como está calor, o pessoal compra muita água, mas foi diminuindo porque a fila é grande, não tem senha suficiente e as pessoas vão desistindo.”
Gerlane dos Santos, 23 anos, decidiu tentar ganhar algum dinheiro vendendo café e bolo em frente à UBS Vila Jacuí (zona leste). “De manhã já tem um monte de gente vendendo”, diz.
No Jabaquara, um ambulante que trabalha perto da estação São Joaquim do metrô, na Liberdade (região central), foi vender café e bolo em frente ao posto do bairro.
UBS CASTRO ALVES Grajaú Pessoas na fila: nenhuma (às 11h) Senhas distribuídas: 400 (às 9h)
UBS JARDIM ÂNGELA Jardim Ângela Cartaz informava que não haveria vacinação no local hoje
UBS JARDIM MIRIAM 2 Cidade Ademar Pessoas na fila: nenhuma (às 10h) Senhas distribuídas: 400
UBS MILTON SANTOS Jabaquara Quando a fila começou: 16h de anteontem Pessoas na fila: 600 (às 6h)
UBS PARQUE SANTO AMARO Santo Amaro Não havia fila nas primeiras horas da madrugada