Defendendo a mamata
Quando surge a chance de conseguir um privilégio no topo do serviço público, mesmo funcionários da melhor qualidade não resistem à tentação.
Nos últimos dias, o jornal “Folha de S.Paulo” noticiou que dois juízes famosos pelo rigor na Lava Jato caíram na farra do auxílio-moradia.
Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, e sua mulher, também magistrada, pediram e receberam o benefício em dose dupla, mesmo morando no mesmo imóvel, na cidade em que trabalham.
Sergio Moro, de Curitiba, também tem imóvel próprio e recebe o auxílio, de quase R$ 4.400 por mês.
As explicações dos juízes para essa mamata não param de pé.
Para começar, dizem que é um direito previsto em lei. Na verdade, foi uma decisão provisória do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que liberou a concessão do benefícios para todos os juízes.
Moro, como outros colegas, diz que o penduricalho compensa a ausência de reajuste salarial desde 2015.
Ora, a enorme maioria dos brasileiros ganha muito menos que os magistrados, não tem estabilidade no emprego e sofreu os efeitos da terrível recessão que durou de 2014 a 2016. Quem será que precisa mais de auxílio-moradia?
Como todo mundo sabe, essa e outras vantagens são formas de driblar o teto da remuneração do serviço público, que é de R$ 33,8 mil por mês.
É claro que magistrados e outros funcionários qualificados merecem ser bem pagos. Só que existem limites: o Brasil não é um país rico, e o governo continua mal das pernas.
Nesse cenário, as prioridades para o uso do dinheiro público são outras.