Pobre menino rico
Pobre menino rico. Desde cedo é o responsável pelo núcleo familiar. O “trabalho” do papai é explorar, digo, assessorar o seu trabalho desde a pré-adolescência. Não são só nos semáforos das grandes metrópoles que o Estatuto da Criança e do Adolescente é desrespeitado no Brasil. Malabarista da bola também sofre no (autointitulado) país do futebol... Não no farol, sob chuva e sol da cidade, mas no campo, sob os holofotes de toda a sociedade. ECA, eca! Não é fácil ter os mundos aos pés e a responsabilidade de sustentar a casa antes da maioridade. A alegria natural da idade é substituída pela ousadia terceirizada de quem viu nele a capacidade de transformar chutes em ouro. No mundo normal, o dia a dia real para quem é mortal, a maioridade, quando não ocorre a emancipação, chega aos 18 anos. É possível até votar antes, mas, para a lei, o ser humano passa a responder por si e pelas suas ações aos 18. O futebol é um paradoxal mundo à parte. Dono do mundo na infância, quando adulto volta a ser criança. Problema com o fisco? Não sabe de nada, é com o papai. Jogou já vendido para o ad- versário a decisão do Mundial? Isso ele não fala, não é ele que vejo, não leve o garoto a mal, afinal, é só um menino crescido, que já é pai, mas não é responsável nem responde pela própria transferência. Neymar, 26 anos, não é mais uma criança de 12 anos. Mas é o dono da bolada e da bola. E queria bater pênalti. Deixaram. Queria bater falta. Deixaram. Quer ser ídolo e aplaudido. Mas, nos 222 milhões de euros gastos pelo dono do Paris Saint-Germain em sua contratação, nenhuma parcela foi para a torcida do PSG, que prefere e idolatra Cavani. Faltou também combinar com o Cristiano Ronaldo e com o Real Madrid... Ganhar a Liga dos Campeões e ser eleito o melhor do mundo vale muito, mas não tem preço. E para chegar lá é preciso fazer parte de um time. Como Messi faz parte do Barça, como Cristiano Ronaldo é estrela integrante do Madrid. Como dono do PSG e jogando só para si, pobre Neymar, será só um menino rico. Que não é querido pela sua torcida como são os riquíssimos Cristiano Ronaldo e Messi pelos seus. Ele tem a volta contra o Real, em Paris, para mudar a história.