Ba-Vi na Copa Imprensa
Ocorre anualmente, em São Paulo, um campeonato de futebol society entre veículos de imprensa. A competição não tem 1% da importância que lhe dão muitos daqueles que a disputam, mas, por trocar de posição pessoas cujo dia a dia é ligado ao esporte, torna-se um fenômeno antropologicamente interessante.
Boleiros frustrados, condição comum aos jornalistas, calçam suas chuteiras. Já os donos de barrigas que fariam inveja ao atacante Walter se dividem entre a beira da quadra e a cartolagem.
O que se vê, dentro e fora das quatro linhas, deixaria confusos os leitores, ouvintes e telespectadores daqueles mesmos jornalistas. Há um abismo entre o futebol praticado e o que é pregado por eles, em seus jornais, rádios e emissoras de televisão.
Não se trata, é claro, de uma questão técnica. Ninguém espera que seja alto o nível das partidas —jogadas, entre vorazes goles de cerveja, por gente que não é atleta.
A parte interessante é observar o comentarista que, mesmo pregando “fair play”, bate lateral dez metros à frente do local em que a bola saiu. Ou o narrador que se esgoela no banco de reservas, repetindo o que chama de “berros e gestos vazios” dos treinadores. Ou, ainda, o repórter, aquele que investiga dirigentes corruptos, usando sua influência para uma tabela mais favorável, para uma inscrição fora do prazo.
Que fique claro, a ideia aqui não é patrulhar ninguém. Evito textos em primeira pessoa, mas faço uso dela agora para afirmar que já participei de vários desses campeonatos e nunca bati um lateral na posição correta.
Só convém a honestidade com o leitor: se, na Copa Imprensa, alguém comemorasse um gol como fez Vinicius, do Bahia, no Ba-Vi do último domingo, o fim do jogo provavelmente seria parecido.