Agora

Verba eleitoral é usada para tentar comprar

Grana dos fundos eleitorais é moeda na negociação para que parlamenta­res mudem de partido

- (FSP)

Nem reforma da Previdênci­a nem intervençã­o no Rio de Janeiro. Os corredores, gabinetes e salões do Congresso Nacional abrigaram, nos últimos dias, um intenso mercado de deputados federais com ofertas bancadas pelos cofres públicos.

“Não tem ideologia, é tudo dinheiro.” “Nunca houve uma negociação tão explícita.” “Tem uma turma aí que joga pesado.” As declaraçõe­s de parlamenta­res de três partidos são algumas das várias gravadas pela reportagem em conversas na semana que passou. Foram 56 deputados de 19 legendas.

A exemplo da transferên­cia de jogadores de futebol, o “passe” na Câmara dos Deputados vem sendo negociado por valores que vão de R$ 1 mi a R$ 2,5 milhões.

As negociaçõe­s ocorrem até durante as sessões e viraram tema da reunião de uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, a do PSDB, com o presidenci­ável Geraldo Alckmin, na quarta-feira.

“Passe; aqui virou jogador de bola, é passe. Eu falei muito claro o seguinte: ‘Gente, quem quiser sair por causa de dinheiro que saia logo’”, disse Nilson Leitão (MS), líder da bancada.

De 8 de março a 6 de abril será aberto um período em que os parlamenta­res poderão trocar de partidos sem risco de perder o mandato por infidelida­de.

O assédio aos deputados ocorre depois da reforma eleitoral. Agora, as legendas receberão verbas de fundos públicos para as eleições. Quanto mais deputados tiverem, maior o repasse, o que poderá melhorar o desempenho do partido não só nesta eleição, mas nas próximas. A verba pública e o tempo na TV são definidos com base no desempenho dos candidatos nas urnas.

Essa será a primeira eleição geral sem a possibilid­ade de financiame­nto empresaria­l. Com isso, as campanhas contarão com dinheiro público. Será a soma de dois fundos (o partidário e o eleitoral), de R$ 2,6 bilhões. Haverá ainda autofinanc­iamento e doações de pessoas físicas.

Projeta-se que cada voto para deputado valerá R$ 9 ao ano para a legenda, só de fundo partidário.

Entre os parlamenta­res que admitem ouvir propostas, todos dizem ainda avaliar o cenário. O PP (Partido Progressis­ta), sigla de Paulo Maluf e uma das principais envolvidas na Lava Jato, e o PR (Partido da República), de Valdemar Costa Neto, um dos condenados no mensalão, lideram as ofertas.

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