Pérolas aos porcos
Um Dérbi tem a capacidade de dar alma às pedras. A centelha de emoção que faltava ao Paulistão foi acesa no fim de semana passado no clássico de Itaquera. Houve todos os ingredientes de um grande espetáculo: golaço de Rodriguinho, dois pênaltis, polêmica... Mas a cena mais tocante aconteceu na arquibancada, proporcionada por Maria Antonia, mãe do goleiro Jailson.
A reportagem de Marco Aurélio Souza revelou uma flor de rara delicadeza. É comovente a imagem de Maria Antonia com as mãos juntas, em posição de oração, aflição e súplica, sem comemorar o gol de seu time, o Corinthians, porque havia sido em cima de seu filho.
Vestida com a camisa alvinegra, assim como sua filha Luana, ela destoa de toda a massa corintiana, que explode de alegria na arena. Depois ainda se revolta com a expulsão de Jailson, por entrada violenta em Renê Júnior, e roga a praga para que Jadson desperdice o pênalti. Apenas na segunda penalidade, convertida por Clayson, ela se dá o direito de vibrar: “Jailson, agora eu vou gritar, me desculpe, mas você não está mais no gol”, justifica.
Toda as sutilezas e contradições da alma humana expressadas por essa linda mulher durante um jogo de futebol. Em tempos de intolerância, Maria Antonia é um exemplo de civilidade. Corintiana roxa, respeitou a opção do filho, palmeirense desde a infância. E vive dividida entre suas duas paixões.
Mas, como ensina a Bíblia, não se dá pérolas aos porcos. E aqui, claro, não se trata de um trocadilho tolo com a mascote palmeirense. Refiro-me, especificamente, aos pobres de espírito que se voltaram contra Jailson. Um dos melhores goleiros da história do Palmeiras, fundamental para a conquista do Brasileiro 2016 e que joga com amor. Um ídolo que só merece respeito e admiração.