Artista evitou influências da trama original
Acaba de estrear no Teatro Alfa a primeira versão brasileira do espetáculo da Broadway “Peter Pan - o Musical”, dirigida por José Possi Neto. Daniel Boaventura vive o Capitão Gancho, e o prodígio Mateus Ribeiro está no papel-título.
Segundo a produtora da peça, Renata Borges, há muitas variações nesta montagem com relação à premiada novaiorquina, de 1954 —que, por sua vez, é adaptação da peça do dramaturgo britânico J. M. Barrie (1860-1937), de 1904.
“Pela primeira vez na história, Pan é vivido por um ho- mem no musical. Queríamos algo diferente do que já foi feito no mundo”, diz ela.
Há ainda números musicais com instrumentos de percussão, algo característico da música nacional. Na adaptação, as canções ganham letras em português, há projeção viva da floresta e até um jacaré robótico, que persegue o Capitão Gancho pelo cenário.
“O mais bonito são os voos [executados no palco com auxílio de cabos] dos personagens, que dão ideia de liberdade. Afinal, o que define Pan são a juventude, a alegria e a liberdade”, avalia Possi Neto.
Segundo o diretor, a peça propõe a reflexão. “É um clássico, assim como a tragédia grega. E, por isso, presta-se a novas interpretações. O que fica são os valores, a questão do envelhecer, da necessidade de ser amado, do carinho.”
Renata reforça: “Além disso, o ato de voar pode ser visto como o fato de não querer enfrentar a realidade. Quem não gostaria de voar desses dias tão doloridos? Por meio das cenas, você questiona a crueldade do tempo e tudo o que poderia ter sido diferente”.
Na pele de Gancho, o veterano em musicais Daniel Boaventura se destaca. “Eu me pego assustado ao ver uma geração de meninos fazendo o diabo em cena, cantando da maneira correta, dançando sem estar esbaforido.”
A grandiosidade do espetáculo é ratificada pela presença de 29 atores e 17 músicos, componentes de uma orquestra que dá o tom da peça.
O ator Daniel Boaventura, que em “Peter Pan - o Musical” vive o Capitão Gancho e o Sr. Darling (pai de Wendy e irmãos), conta que, na preparação para a peça, tentou não se envolver com a trama em que é baseada a montagem.
“Para fazer espetáculo com interpretação brasileira tem de ter coragem, pois é uma linguagem dominada pelos ingleses e americanos. Vi muitos vídeos, montagens, mas não me deixo influenciar. Seria mais fácil dessa forma. Meu maior aprendizado é atuando”, diz. “Quando sou Darling, mudo a entonação da voz. Uso outros maneirismos em cena. É difícil, mas fascinante.”