Longe das redes
Mesmo cada vez mais seguro, Fábio Carille mantém distância das críticas e dos elogios do mundo virtual
Técnico do alvinegro, que joga hoje no Pacaembu, não lerá comentários sobre o jogo na internet
Fábio Carille assumiu a equipe do Corinthians em janeiro do ano passado. Dois meses depois, já não suportava acompanhar os comentários feitos a respeito de seu trabalho nas redes sociais.
“Eu tinha 43 anos e estava nisso aí fazia uns três ou quatro. Pensei: ‘Vivi 40 anos sem isso’. E decidi: ‘Se ficar sem, não vou morrer’. Saí”, disse o treinador, que comanda hoje o time contra o Bragantino, às 16h, no Pacaembu, pelas quartas do Paulistão.
Tivesse ficado, o paulista teria lido muito mais elogios do que recebia um ano atrás, quando ainda tentava se afirmar. Segundo ele, porém, não faz falta um hábito que considerava uma distração.
Menos atento à tela do celular, Carille se concentrou em fazer seu time campeão estadual e nacional em 2017. Com o sucesso, veio uma expectativa muito maior para esta temporada.
A grande meta é conquistar a Taça Libertadores. E a estratégia para repetir o título de 2012 —obtido com o atual técnico como auxiliar— é semelhante à utilizada há seis anos.
Distante das redes sociais, o comandante quer manter os adversários longe das redes literais. Tomar poucos gols, diz ele, é o caminho para o Corinthians chegar ao topo da América mais uma vez.
Nesta entrevista, Carille falou sobre seus planos para o time alvinegro. E, entre outros assuntos, explicou por que o mundo de “hashtags” e donos da verdade não lhe faz falta nenhuma. Fábio Carille Agora Mesmo com os ótimos resultados de 2017, o Corinthians começou 2018 sendo bastante questionado. Isso incomodou? Carille Não leio, não assisto a programas esportivos. Já faz quatro ou cinco anos. Tenho uma equipe que trabalha demais. Fazemos reuniões diárias para deixar as coisas muito bem estabelecidas. Se começar a escutar e me preocupar demais, vou começar a querer mudar, não vou seguir nossas convicções. Aí, pode ser ruim. Agora Você faz isso só para não ser influenciado ou para não se irritar também? Carille Os dois. Nesses programas de TV, com três ou quatro horas de duração, vão ter que inventar. Aparecem as famosas fontes, é a coisa mais linda do futebol. O cara acorda e resolve falar de Ibra no Corinthians. Muitas vezes, prejudica. Então, faço questão de falar ao torcedor que as coisas não são assim.
Agora E as redes sociais? Você acompanha? Carille Eu tinha até março. Resolvi não ter mais. Porque isso é um vício. Tenho uma conta no Instagram, mas quem cuida é o pessoal da assessoria, olho muito pouco. Nos primeiros dois meses, deu aquele desespero. Hoje, não sinto falta nenhuma. Estou tendo uma vida social maravilhosa sem isso.
Agora As críticas feitas ali incomodavam? Carille As opiniões são em cima do que as pessoas leem. Mais de 80% é aquilo que elas escutam. Se você falar “o Fábio não sabe nada”, milhares de pessoas vão vir na sua ideia. Se você falar “o Fábio é um baita de um técnico”, as pessoas vão atrás. Elas se contaminam, não é uma opinião própria.
Agora Acha que os atletas dão importância a isso? Carille Posso dar um exemplo de 2012. Nossa dupla de zaga fez um primeiro semestre maravilhoso. Eles acompanhavam, liam. As notas do Chicão eram sempre sete. O Castán tirava cinco. Ele veio falar comigo, incomodado. Eu disse: ‘Não se apega a isso’. Quer ter a rede social? Mas não se apega.
Agora Você falou da segurança da zaga em 2012, e o time atual parece ter isso também, joga até com um esquema parecido com aquele, sem um atacante de área. A ideia é mesmo armar o time de maneira semelhante? Carille A ideia é essa, sim. Em 2012, nos 16 jogos até a conquista do Mundial, foram quatro gols tomados. É uma marca histórica, não sei se teve outra equipe que conseguiu isso até o Mundial. A ideia é parecida, sim.
Agora Em que estágio está a equipe hoje? Carille Nós demoramos um pouquinho para ajustar esse jeito de jogar. A gente ainda precisa ser mais agressivo, terminar melhor as jogadas. Se eu tivesse planejado essa formação na pré-temporada, tenho certeza de que nossa equipe estaria muito melhor neste momento.
Agora Ajuda ter atletas experientes e gente que foi campeã em 2012, caso do Cássio, do Ralf, do Danilo e do Emerson? Carille Sim. Tínhamos essa ideia de encorpar a equipe mesmo, de deixar a equipe mais cascuda.