Agora

Deixem o Papagaio voar

- Gilvan Ribeiro

Papagaio que acompanha joão-de-barro vira ajudante de pedreiro. Esse antigo ditado popular serve de apoio ao jovem atacante do Palmeiras para que resista à pressão para aposentar o apelido e adotar o nome que está em sua certidão de nascimento, RG e CPF.

Após fazer o primeiro gol pelo time profission­al, na goleada por 5 a 0 sobre o Novorizont­ino, o novato foi bombardead­o por perguntas insistente­s que, muito além de indagar, constrangi­am o jogador a abandonar a sua marca registrada.

Ao responder pela primeira vez, Papagaio expressou seu desejo com convicção. “Como já deixei bem claro para a assessoria, se puder manter, eu vou ficar muito feliz. Muita gente fala: ‘Ah, você tem que mudar, colocar seu nome e sobrenome’. Mas isso eu não quero que atrapalhe em nada, só quero ser lembrado pelo meu futebol.”

A repórter, no entanto, não se conformou com a decisão e voltou à carga: “Qual seu sobrenome?”. Ele respondeu que se chama Rafael Elias. Então a jornalista disparou: “Vamos... [aí ela se conteve a tempo de não decretar ali mesmo a troca]. Vai continuar Papagaio ou virar Rafael Elias?”, persistiu. Acuado, o garoto concedeu: “Veremos nos próximos capítulos”.

Querem transformá-lo em um Rafael Elias a mais, sem personalid­ade própria, como essa legião de Brunos Henriques, Joãos Pedros, Lucas Otávios, Paulos Ricardos, Diegos Maurícios... Nomes comuns que, somados, não dão um tostão.

Já disse isso aqui uma vez e vou repetir: o mitológico Tostão, hoje em dia, seria reduzido a Eduardo Andrade. Assim como Pelé seria Edson Arantes, e Zico se tornaria Arthur Coimbra.

Deixem o Papagaio em paz, falando pelos cotovelos e fazendo muitos gols. Ele quer ser único, e um pouco de fantasia não faz mal a ninguém.

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