Minuto de silêncio
Peço desculpas aos corintianos e palmeirenses que celebram seus times na grande final do Paulistão para chamar um minuto de silêncio. Um breve momento de reflexão antes de seguirmos o disputado jogo da vida.
Um minuto de silêncio pelas vítimas mortas bestamente por facções criminosas que tomaram de assalto as torcidas.
Um minuto de silêncio pela estupidez das autoridades que se renderam aos bandidos e impuseram torcida única nos clássicos, um estímulo à intolerância, sinalizando às novas gerações que não se pode conviver pacificamente com os rivais.
Um minuto de silêncio pelo ódio que contamina todo o país como um câncer em plena metástase. Que leva militantes de partidos adversários a se atacarem de forma violenta e insana.
Um minuto de silêncio para Marielle Franco, brutalmente assassinada e ainda difamada por notícias falsas.
Um minuto de silêncio por um país que regressa à idade das trevas. Em que parte da sociedade aprova um atentado a tiros à comitiva de um expresidente da República.
Um minuto de silêncio pela volta dos jagunços, pelos discursos raivosos, pela violência nas ruas e crueza dos corações. Por nosso presente sombrio.
Um minuto de silêncio pela partida de um homem que me ensinou a respeitar as diferenças, a combater as injustiças, a rejeitar a censura, a pensar livremente, a amar...
Um minuto de silêncio por um sujeito que jamais levantou a voz com os filhos e os apoiou mesmo quando pensava de forma totalmente oposta.
Um minuto de silêncio para Gilson Moraes de Oliveira, 91 anos, o melhor pai que eu poderia ter tido. Vai em paz, meu velho, que aqui continuaremos na luta. Afinal, mais do que ninguém, você nos mostrou que o jogo só acaba quando termina. Abraços e beijos.