Agora

Foro em cascata

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O foro especial, também chamado de foro privilegia­do, foi criado com propósitos que, pelo menos no papel, estão corretos.

A ideia é que processos contra um governante sejam julgados em tribunais que reúnam um grupo de magistrado­s mais qualificad­os.

Dessa forma, a regra pretende evitar interferên­cias políticas indevidas no julgamento.

Imagine, por exemplo, um juiz no interior pobre do país que examina uma ação envolvendo um cacique de sua região. Mesmo com provas, a decisão de condenar vai ser difícil.

O contrário também pode acontecer: um processo sem muita base pode avançar só para prejudicar um adversário.

Tudo isso faz sentido. Só que, na prática, o benefício passou da medida no Brasil.

Um levantamen­to do jornal Folha de S.paulo mostrou que existem mais de 58 mil autoridade­s com foro especial no país.

É presidente, governador, prefeito, ministro, senador, deputado, vereador, desembarga­dor. Até chefe de bombeiro e diretor de empresa estatal entram na farra.

Não existe notícia de nada parecido em outros países. É claro que uma multidão assim provoca uma confusão nos tribunais, como dá para notar, principalm­ente, nos superiores.

O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, não consegue julgar com rapidez tantos políticos. O resultado é que os casos se arrastam, e muitos corruptos saem impunes.

Não adianta imaginar que acabar com o foro vai resolver tudo: a primeira instância, na maior parte dos casos, também não é nenhuma maravilha.

Mas, sem dúvida, é preciso rever os exageros do modelo brasileiro.

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