Demagogia Corinthiana
“Quando o Doutor levantou o punho, um time levantou uma democracia.” Seria lindo, não fosse mais uma ação de marketing que capitaliza um ídolo sem reverenciar devidamente sua história.
Parece pouco provável que Sócrates aprovasse o uso de sua imagem dessa maneira, com a ostensiva marca da fabricante esportiva acima de sua cabeça na peça publicitária. O pretexto é o lançamento da nova camisa do Corinthians, que remete à usada na época da Democracia Corinthiana.
Na prática, é a volta do uniforme tradicional, branco, sem maiores invenções. Pode ser uma homenagem ao time bicampeão paulista de 1982 e 1983 ou a qualquer outra equipe do alvinegro no século passado, tempo em que as cores e os símbolos do clube eram mais respeitados.
A verdade é que não devem ser levadas em conta as justificativas dadas nos lançamentos das camisas, cujos desenhos são definidos por multinacionais que unificam Ludogorets e Palmeiras. A formação do Parque São Jorge vestiu até o ano passado uma inexplicável roupa azul cujo argumento, acredite, era exatamente este: “O Corinthians não se explica”.
Não deixa de chamar a atenção, no entanto, a ode à democracia em um clube comandado pelo mesmo grupo político há mais de dez anos. E presidido por um homem que Sócrates não suportava.
O Doutor chegou a se recusar a pôr os pés na calçada da fama alvinegra por causa de Andrés Sanchez. O antecessor deste, Roberto de Andrade, disse que “a Democracia Corinthiana não trouxe benefício algum”.
Ainda assim, a diretoria fantasiará seus atletas de Sócrates, na próxima quarta, antes da partida contra o Independiente, para vender o uniforme. Se não houve reajuste em relação ao modelo anterior, a camisa do time do povo sai por R$ 249,90.