Tragédia previsível
O mais chocante no desabamento de um prédio de 24 andares no centro de São Paulo —depois, claro, do drama das vítimas— é que não houve nada de surpreendente na tragédia da madrugada de 1º de maio.
Ainda falta saber, claro, quantos foram os mortos e feridos. Também é preciso apurar o motivo do incêndio que levou abaixo a construção, onde cerca de 150 famílias viviam de forma precária e irregular.
Mas as autoridades mostraram que tinham pleno conhecimento do se passava ali. Foram rápidas, além disso, em tirar o corpo fora do desastre.
O prefeito Bruno Covas (PSDB) disse que a administração municipal realizou neste ano seis reuniões com representante dos moradores, para falar dos riscos do local.
Já seu correligionário João Doria, titular da cadeira até abril, afirmou que o edifício estava ocupado por uma facção criminosa e era ponto de tráfico de drogas.
Quem de fato mandava no prédio era o movimento Luta por Moradia Digna, que pelo que contaram moradores, até cobrava aluguel. Mas os líderes dos sem-teto culpam a falta de habitação na cidade.
O governador Márcio França (PSB) reclamou do Ministério Público e da Justiça, que costumam barrar ações para retomar áreas invadidas.
O governo federal, dono do imóvel, divulgou em nota que havia cedido o local à prefeitura em 2017.
As desculpas acabam contando a história do desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, um marco da arquitetura paulistana, erguido nos anos 1960 e abandonado pelo poder público na década passada.
Com esse jogo de empurra, o desastre foi acontecendo à vista de todos.