Morador é levado por prédio ao voltar para salvar amigos
Jovem de 20 anos já estava na rua quando voltou para resgatar moradores e por pouco não se salvou
Conhecido como Tatuagem, pelos desenhos que tinha no corpo, o jovem que aparece em imagens de televisão pendurado em uma corda no momento em que o prédio desaba é tido pelos moradores da ocupação como um herói desaparecido.
Segundo a ambulante Jéssica Matos, 20 anos, o rapaz já estava na rua quando voltou para ajudar a resgatar os outros moradores. Ela morava com a mãe e a irmã havia sete anos no prédio. “O Tatuagem morava aqui sozinho, ele vendia artesanato e fazia de vez em quando outros bicos”, diz.
Além das tatuagens, o jovem também era conhecido pela paixão pelos patins. “Na entrada do prédio, ele já colocava os patins. Na rua, a gente só via ele patinando, com a mochila nas costas”, afirma. Neusa Carvalho de Souza, 55 anos, diz que um dos filhos trabalhava com Tatuagem —também chamado de Ricardo. Ambos descarregavam caminhões na região. “Nem sei o nome dele, talvez meu filho que não está aqui saiba”, diz.
Por pouco
O sargento Diego Pereira da Silva, 32 anos, era um dos bombeiros que tentava resgatar Tatuagem no momento em que o prédio desabou. Ele acredita que seriam necessários mais 30 ou 40 segundos para que o salvamento fosse concluído.
Segundo ele, o jovem, que afirma aparentar ter entre 25 e 30 anos, estava nervoso e gritava por ajuda, mas se acalmou com a tentativa de resgate quase concluída — já estava preso, por exemplo, em uma espécie de cadeirinha de cordas chamada de “cinto alemão”.
Outro herói
Segundo Jéssica, outra pessoa fundamental para que o incêndio não provocasse mais vítimas fatais foi Alexandre, um morador de rua que trabalha como catador de materiais recicláveis. “Ele está sempre por perto do prédio porque o João, pai dele, morava aqui com outros filhos”, diz. Ela diz que Alexandre estava do lado de fora e quebrou uma vidraça ao lado quando viu que a porta estava emperrada.
A ambulante Jéssica morava no segundo andar. “Minha mãe viu o fogo pelo prédio em frente e conseguiu me acordar. Ainda tentei salvar o cachorro e os oito gatos que estavam comigo no meu quarto, mas não consegui. O cachorro estava assustado e me mordeu”, afirma.
Há cinco anos no Brasil, a peruana Marcela Mejia, 55 anos, diz que quase não saiu do prédio quando ouviu a gritaria. “Pensei que fosse uma briga e tratei de ficar quieta no meu canto, até que comecei a sentir que o prédio estava balançando e ouvi os vidros quebrarem.”
Moradora do quinto andar, onde o incêndio teria começado, Elaine de Oliveira, 36 anos, diz que viu um homem sair correndo pelado, gritando que havia iniciado um incêndio. Ela afirma que saiu correndo com o marido e três filhos somente com as roupas do corpo. Gabriel Archângelo, 24 anos, ajudante geral idem Gisele Félix das Neves, 18 anos