Jogadores do país ganham 4 salários mínimos por mês
Enquanto craques da seleção têm fortunas, a maioria joga às moscas e grana mal cobre as despesas
Era o final de abril e Kauê Ramos Ceccacci já estava preocupado em saber onde estará em 2019. Seu contrato com a Portuguesa Santista, clube paulista que subiu para a Séria A-2 do Paulista, acabará em dezembro.
Ele tem tamanho senso de urgência porque, aos 23 anos, não acredita ter pouca idade para o futebol.
“Eu estou jovem? Você acha? Não estou tão jovem assim, não. Preciso correr atrás”, afirma o jogador.
Nascido em Santos, a 73 km de São Paulo, Kauê é o representante típico do jogador de futebol no Brasil.
Pesquisa feita com os registros de atletas profissionais no Ministério do Trabalho em 2016 —últimos dados disponíveis— mostra que a síntese do jogador brasileiro é alguém de 23 anos, com contrato há 12 meses, e que recebe R$ 3.653 por mês, pouco mais de quatro salários mínimos naquele ano (R$ 880). O valor é equivalente à renda familiar de uma família de classe média.
“A situação dos atletas de grandes clubes paulistas, como Corinthians, São Paulo e Palmeiras, é muito diferente do que se vê no interior. Não tem comparação”, diz Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo.
O número de jogadores de futebol no país em 2016 era de 12.880. Cerca de 8.000 deles estão concentrados no estado de São Paulo.
Por enquanto, o salário de Kauê (e da média dos seus colegas de profissão) está bem longe do pago pelas principais equipes da Séria A do Brasileiro. No Flamengo, Paolo Guerrero, recebe cerca de R$ 800 mil mensais — 1% dos atletas de maiores vencimentos ganham mais do que os 78% mais pobres.
A média salarial dos técnicos é ainda menor: R$ 2.642. Em 2016, havia 3.712 treinadores no Brasil.