Revelação da CIA não afeta Forças Armadas, diz governo
Ministro Jungmann afirma que ainda não houve acesso oficial a documento sobre mortes na ditadura
No dia seguinte à revelação de um documento secreto sobre a ditadura militar, o governo federal saiu em defesa das Forças Armadas, mesmo reconhecendo não ter conhecimento oficial se houve a continuidade da política de execuções sumárias a adversários políticos durante a administração de Ernesto Geisel (1974-1979).
Com o silêncio do presidente Michel Temer, que não quis comentar o assunto, coube ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, se pronunciar ontem sobre o conteúdo do memorando da CIA (a agência de inteligência dos EUA).
Segundo ele, a divulgação das informações não afeta o prestígio das Forças Armadas, as quais chamou de um “ativo democrático no país”. Para ele, o valor da classe militar “não é tocado por uma reportagem”.
“Não temos aceso a documentos oficiais e isso só poderá ocorrer um pronunciamento oficial, quando tivermos acesso direto a esses documentos”, disse.
O ministro defendeu que alguma medida deve ser tomada pelo governo brasileiro, mas ressaltou que não cabe a ele tomar uma decisão. Jungmann, que ocupava a pasta desde o início do atual governo, deixou a Defesa em fevereiro para comandar a Segurança Pública.
Já o o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, secretário nacional de Segurança Pública, questionou se há interesse político envolvido na divulgação do memorando, como para prejudicar militares que sejam candidatos.
No documento, divulgado pelo professor de relações internacionais na FGV (Fundação Getúlio Vargas), Matias Spektor, o chefe da agência americana afirma que Ernesto Geisel aprovou a continuidade de uma política de execuções sumárias de adversários da ditadura militar.
Ele teria orientado o chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) que viria a substituí-lo na Presidência, João Baptista Figueiredo, a autorizar pessoalmente os assassinatos.